Falávamos das
coisas da cidade. De uma cidade com:
- Pão, carne,
salada, peixe.
Em recortes.
- Que mais?
- Goiabada,
bolacha ou biscoito e café preto.
- Que delícia.
- Mas se falta?
Dor.
- Não falta.
- Num gosto nem de pensar num troço desses.
- Nem de brincar.
- Nem mesmo.
- Eu gosto é de
pensar que tem.
- Vocês me
ouviram?
Batata, linguiça e
couve manteiga.
- Tem!
Na bancada.
Tem alimento que é
imagem, alimento com os olhos, tem também quem, alimento com o cheiro. Alimentos
como podem.
Tem quem não perca
tempo e se afasta e, volta com as panelas, a tábua de madeira, as facas de
corte.
- São da cidade?
Todos eles cortam
os ingredientes da venda que segue aberta até que passe o último trem. Até a
chegada do último morador que precise de álcool, papel higiênico ou detergente.
- Daqui mesmo.
- Vamos sair mais
tarde?
- Nesse frio!?
- Quem aguenta?
Ninguém.
Calados. Refletem.
Tantas coisas. Mas têm um teto.
- Está bom para ficar
de chamego.
- Está mesmo.
- Vamos comer
primeiro.
Sentam, conversam.
- Pra lá, que será que pensam?
- Não sei.
- Que nos
aguentem.
- Claro!
- Pensam ser uma
grandeza!
- Temos parte
também.
Manhã, tarde ou
noite, na madrugada.
Barulho. Barulho.
Tem de acontecer. Vez
ou outra acontece. Bate na janela um dos pés ou uma das mãos. Na hora do
trabalho todo apoio, necessário.
- Meu deus!,
pintaram o prédio inteiro!
Pois isso, é só um terço.
Pois isso, é só um terço.