segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

cenas cotidiana 2.



João chega tarde, com fome. Resolve um lanche rápido evitando fazer barulho. Lê pela milésima vez de mais uma semana, mais uma terça, os escritos na caixa de cereal.

          “Mostre o Tigre que há em você.”

          Retorna o leite à geladeira, o cereal no armário, deixa na pia a tigela usada. Os sapatos retirados na entrada ficam por ali mesmo, próximo a porta. No banheiro urina, lava as mãos, o rosto, enxagua os dentes, fixa o olhar nele mesmo refletido no espelho. João se dirige ao quarto, abre a porta. O amarelo suave do abajur aceso, Ana acordada? De pernas abertas, acordada. Com o indicador úmido, Ana chama João para junto dela.
          João avança:

          - ggggRRRRR!
          - afe, João. Não, espera. Para.
         
          Secou tudo.
         
          - Quer saber, João, nem deita ai.
         

          Ainda com fome João foi dormir no sofá. 

cenas cotidiana 1.

A última impressão também é a que fica.
Você não pretende voltar, ligar nunca mais, vai deixa-la. A dica é sair com estilo. Será sempre bem lembrado e entre as amigas dela, comentado. Observe.


Ajoelhado frente a cama apoio a mão sobre seu rosto, o polegar acaricia sua sobrancelha.
         
          - Moça. Estou indo.
          - Puta que pariu! Que susto. Não foi ainda, menino?


          Ela virou e voltou a dormir. 

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Na casa primeira
No armário de portas mesmas
Uma gaveta última
Amores guardados sempre
Calça anarquia rasgada
Pulseira de cordão primeiro beijo
Camiseta transa florida
Outra, social branco sonho de casamento.


No bairro, grita a serra
Anúncio ao presente de vias quietas
Futuro fluxo sobe, desce dos prédios
Pessoas boas, espero.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

“Modo avião”

Tenho o “não ter casa”.
Essa minha, tijolos bem montados,
Janela e porta.
Toco, abro, fecho, penduro quadros,
Nada.

É como quando, deitado, o “não durmo”
Físico olhos fechados

Fora eu, acordado.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Metrópole

Pena seca
Na seca
Cidade-ausência
Do úmido só em meu rosto


Distância do teu gosto.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

cenas cotidiana

Raramente fica a tampa do fogão mais que meio dia deitada. Aqui a cozinha não para. Sempre tem pó aguardando a água quente. E a pia que mal seca já tem louça para ser lavada. Aqui a cozinha não para, me recebe o tempo inteiro.
           
Mala

Parto o pão e corro doido atrás do recheio. Ele se esconde, eu não encontro.

- Mããããe!
- Que foi?
- Não tem recheio.

- Oxe! São três da manhã, menino. Vai dormir que amanhã acordo cedo. 

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Condição pública

        Carne e osso, gengiva e dente. Entende? Gente

        Veio correndo, acenando, respirando com esforço, espirou

        - Diz pra ele esperar um pouquinho
       
        - Ei, por favor ...
        - Não dá
        - Mas ...
        - Não posso
       
        Não pôde. Levaria uma multa, perderia o emprego, ficaria sem sustento. Entende?
        Sim
        Claro que entende

        Na rua, meio-dia, sol a pino, sem um pé plantado de árvore, escorrem gostas d’água da sacola da senhora do mercado, no asfalto
        A condução seguinte demora
       
        - Desculpa
        - É. Eu sei, meu filho, eu sei

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Preso

Muitos dos que olham minhas mãos reparam no meu dedo. Perguntam:
- Já foi preso?
Isso por causa de um desenho. Devo responder:
- Sim. Sai tem pouco tempo. Semana passada de um emprego.





* Texto que eu jamais escreveria ou que minha mãe escreveria ou que eu escreveria para minha mãe    ler. 

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Porta, privada, sala. Minha casa

Porta

Porto seguro do que não uso.
Aberta,
todo um mar me espera.


Privada

O particular que não quero.
Público,
nos lagos que não nado.


Sala

Não recebe só visitas
Por vezes transpira
Ignora a tevê, não chega ao travesseiro.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Gente

(1)

Sobe a balsa forte
Buscar os preciosos

Pele, osso
Carne, dente

Quente.



(2)

- Vamos! Mas...

Hoje resolvi o ser
Mais gente

Estou de ônibus, metrô e tênis.

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Estou chegando

          É, ainda não chegou. E como poderia chegar? Ele exibe o mapa que carrega em suas mãos. Rotas de 30, mofado. Está como ... veja, todo amassado.
          É de imaginar que já tenha voado da janela de carros e se empoeirado em asfaltos, que tenha sido esquecido por tempos na prateleira próxima ao sofá, e depois de tanto, separado para lixeira – acumulados que não queremos mais – dos recicláveis.
          Ele disse ter feito perguntas. Mas as respostas chegavam apenas em informações diagramadas no formato manual. Logo deram a ele um mapa, o mapa, este mapa, você está aqui, vá até ali, e nada mais que um simples, vai logo, rapaz.
          Encontrei-o, com o mapa, nas ruas e avenidas. Pelo seu olhar cansado, já caminhava por tempos de um e de outro lado. Tento ajudar. Sua corrida passa os olhos no relógio de caminho sempre certo, não para. Cobra seu tempo no tempo, e claro, seu tempo, não vence. Diz que fervilham seus pensamentos. Está atordoado. E como não estaria? A cidade 24 horas suas necessidades sempre atendidas, não gosta de esperar. Ele atende o celular.

          - Tô chegando!



terça-feira, 26 de agosto de 2014

Padaria

Sujeito à corrupção – (Padaria)

Me compravam com delícias.
Papai dizia “não conta das biritas”, e o pagamento saia em doces da gringa.
Em casa, pudim de leite na mesa da cozinha, mamãe sorria, e eu soltava a língua. 

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Enganar o sentimento?


Ele ri
Está em mim, tão meu, nasceu dentro, dos caminhos
Não o quero?
Então,
Me quero?
É para você que digo “não”, mas, quero, sim!

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Sinda

            
            uma palavra inventada; um amor de família.


            No quarto os primos travam um desinteressante diálogo. Cada um entretido a sua própria vontade. Juntos apenas por resquícios da infância quando brincavam o dia todo e as particularidades, os momentos privativos, existiam só na hora do banheiro.
            Ele percorria os olhos sobre as linhas de um livro forçando expressões para deixar claro que seu interesse era unicamente a leitura. Manifestava-se por resmungos. Ela soltando palavras e mais palavras, algo sobre um possível roteiro de viagem para o Rio.

            - Preciso pegar um voo pela manhã...
            - Sinda.
            - Estou ocupada com as roupas, menino.  
            - Tá bom.  

            Na manhã seguinte, logo nos primeiros minutos de claridade, o telefone toca ininterruptamente. Chega no mesmo instante a empregada carregada com pão, leite, saindo do elevador, no hall de entrada. Ouvindo o desenfreado toque do aparelho busca na bolsa por suas chaves em um esforço para abrir a porta a tempo de atende-lo.

            - Alô.
            - Sinda! Cadê o Eduardo?
            - Mas isso é hora de ligar, menina? Ele deve estar dormindo.
            - Dormindo? Como assim? Acorda ele, agora!
            - Não acordo, não! Sabe que ele dorme até tarde.
            - Ele disse me levar hoje cedo ao aeroporto. Estou de malas, na calçada, e atrasada. Comentei com ele sobre a viagem ainda ontem. Ele disse: “Sim dá. ”.







quinta-feira, 31 de julho de 2014

Me deixa descobrir se sei

Terrível. De enlouquecer. Perder a noção do tempo.
Não lembro quando começou, provavelmente a muito tempo. Lembro de quando notei. Já tem uns bons meses.
Noites de rango na cozinha, digerindo informações, pensamentos, encontros, desencontros, fazeres do dia e afazeres do próximo.
Termino. Largo a louça na pia. Uma tarefa para o outro dia. O inconsciente faz deste mínimo a conferência de minha existência. Se torna um desejo. É um ciclo que cabe a mim concluir. Infortúnio ou não é meu restante de individualidade neste mundo.
Guardar. Decidir. É a minha produção. Para quando for preciso ou eu bem entender. 
O sentimento de poupança esquecida que se utiliza apenas quando dá vontade de fazer. Não foi o sucedido aos poupadores da era Collor. Era não, é. Todas as manhãs quando acordo como mágica de política, some.
A louça some. Já foi tocada, lavada, secada, transportada sem que fosse possível eu mexer.
Quando será minha vez?
Quando terei o prazer ou desprazer?
Me deixa ser dono da louça que eu mesmo sujei. 

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Fim da farra?

Depois de pensar muito, ensaiar diálogos, abro a porta e vou direto com o dedo preparado, apontado. Droga. Toda vez sempre isso o cachorro latindo. Me entrega na saída, na entrada. Vou com o dedo no botão do vizinho. Não, não pense bobagens. “Ding Dong”. Ainda mais latidos. Puta merda cachorro chato. Mas fazer o que? Estou desesperado. Suando, aguardo. Deixei de lado a desculpa de pedir açúcar emprestado. Já tinha pedido na retrasada e arroz na semana passada.

- Oi boa noite tudo bem? Estou na varanda tomando uma cerveja o que acham de me acompanhar? Escolham o som, poço trocar. Topam?

Me entrego aos vizinhos que sempre julguei chatos. Vou de pedidos de açúcar que já tenho, arroz que até hoje não sei fazer e agora essa de convite para cerveja que nem sei se eles são de beber. Tudo porque depois das oito horas às ruas estão vigiadas, os bares e até as padarias estão trancafiadas. É toque de recolher em cima dos papos descompromissados. Não pode mais aglomeração de pessoas. Alguns lugares muito bem fiscalizados, restaurantes 10 pessoas lotação máxima e quando sair, entrar, ligar e rodar com carro será autuado, questionado, documentos variados para apresentar.

Por isso, os vizinhos. Pois está fechado aquele bar de meio de caminho quando reunimos os amigos. Tentamos nos reunir nos apartamentos, mas depois das dez horas, de carro, na rua, tem que ter vários documentos, já sabe, um saco. Apartamento. Sente soar? Apertado. Tentamos. Não funcionou. Seis horas da manhã todo mundo um único banheiro, todos atrasados. 

terça-feira, 17 de junho de 2014

Zé-ístico

“Não creio. Além de serem só dois caixas, apenas um ocupado?”.

          Isso mesmo, Zé.
          Uma pequena e única agência para os cinquenta prédios de um mesmo bairro.
          Não apenas uma. Uma com dois caixas e só um atendente. Isso em pleno dia cinco, dez, quinze ou o vinte.

          “Engraçado não ser só, um, só, cinco desempregados. É tanta gente à procura de emprego.”
         
          E isso pensa o Zé, na fila, em pé.
          Filas que consomem o tempo-almoço que, de almoço mesmo, só cinco minutos, engolido.
          
          “Como é que pode? Um bairro com tantos prédios e um caixa? Em pleno dia cinco? Isso porque esse é o bairro do trabalho. O meu mesmo nem agência tem.”


          O Zé não era estatístico, mas, em pé, na fila, arriscava; não era humanístico, mas com dor, as pernas cansadas, sabia que aquilo não podia, não dava; não era ‘nutricionístico’, porém, a marmita de arroz, batata e carne assada, não restaria tempo necessário para o particular com a privada.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Vai ou não vai ter Copa?

Vai ou não vai ter Copa?

Telefone 1.

- Tem extensão?
- Como?
- Traz e vai ver!

Telefone 2.

- Tem extensão?
- Tenho.
- Então não esquece de trazer.

Telefone 3.

- Tem extensão?
- Vou levar.

Assim segue mais algumas ligações.

As cadeiras vão chegando e dispostas para acomodar a ocupação do espaço público; fios e mais fios seguem conectados para trazer energia até a rua que aguarda com a tevê; aquele mexe, mexe na antena para sintonizar o que todos querem ver.

- Hoje foda-se. Liga na Globo mesmo.

“VAI BRASIL! ”

domingo, 1 de junho de 2014

Los Rosales

- Se sentó en el niño! se aplastó
- ¡Madre de Dios! Qué horror
- Muerto

Não há como não notar a parede da casa.
De 2,20 metros de altura por 2,50 metros de largura um buraco que virou atração de dedos apontados, mãos levadas a boca e, um delicioso prazer de tomar conta da vida dos outros.
Foi do buraco que saiu carregada por bombeiros a acusada Mayra Rosales.

- Demasiado gordo para matar.
- Oooooh!

O advogado de defesa proferiu as palavras que provocaram coro dentro do fórum. O mesmo coro das casas antenadas no canal ao vivo de televisão. Mesmo assim tem quem diga que fazia, na rua, um lindo dia de sol. 
       
Três anos, oitenta centímetros de comprimento, doze quilos de pura saúde – a vítima – não poderia, sem ser notada, ser esmaga pela mulher de meia tonelada que sem ajuda de mais de um adulto não consegue se mover.
         
- Orden! Declaro el acusado no culpable. Caso cerrado!
       
Mayra foi mais um caso de família; foi a tia acusada de matar o querido sobrinho – morto pela agressão no peso das mãos de sua própria mãe; foi a fartura e o delicioso banquete no happy hour da imprensa sensacionalista.
       

Mulher mais gorda do mundo perde 380 kg após enfrentar acusação de homicídio

Tabloide São Paulo | 20/11/2013 12:58 - Atualizada às 22/11/2013 14:16

terça-feira, 27 de maio de 2014

Bate-papo.

- Bom dia! Já cheguei.

Ouviu do quarto aqueles dizeres que eram para ele segundo toque do despertador. Levantou. Vestiu-se para escovar os dentes e sair. Sentou à mesa para comer.

- Está cheio de bombeiros lá na madeireira.

Estas foram as primeiras informações enquanto aquecia o café para acrescentar ao leite. Informações do externo que ainda não havia acessado. Chegaram primeiro que sua própria perspectiva sobre como seguia o dia.

- Uma situação complicada – sem vontade para tratar deste assunto – mas eles têm seguro.
- Meu marido, foi quem viu primeiro.

Não eram aquelas palavras que ele queria, mas estava afim de conversa. Na palavra “marido” viu oportunidade de uma rápida entrevista quem sabe um papo.

- Viu primeiro? Que horas entra seu esposo?
- Ele, hoje, pega às 7.
- E nos outros dias?
- 5 h e 30.
- Então ele chega bem antes da senhora – já eram 9 horas.
- Sim. Acorda bem cedo.
- Creio que levanta junto dele. Não é mesmo?
- Levanto, sim – um sorriso.

Parou por ai, sem querer, refletindo sobre os tantos anos de companheirismo que ela expressou no sorriso. Uma pausa longa. Seguiram-se outros movimentos. Tudo quase pronto para sair.

- Hoje está mais frio que ontem.

 Ouviu os diálogos que se seguiram na sua ausência – estava de volta a seu quarto.

- Hoje está mais quente. Ontem esteve mais frio – disse sua mãe que acabava de voltar do caminhar do dia. 

Aqueles mesmos papos. Não eram, mas pareciam ser o único vocabulário. Ele demorou a sair e como não existiu margem suficiente para uma outra conversa, não teve jeito. Achou graça. Os dizeres diferentes sobre um único e mesmo acontecimento. Maneira do sentir de cada um conforme seu próprio movimento. Quente ou frio. Um fato ou um jogo de palavras corriqueiro? Retornando a cozinha ligou a mídia aberta na possibilidade de surgirem ares para um papo diferente. No jornal: o tempo. Ela até que tentou. Ele também. Mas ele não quis falar dos bombeiros e a beleza do sorriso dela evocaram um turbilhão de sentimentos que dizem por si só, não pedem por mais dizeres.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Observação Mercadológica

Desço do veículo já estacionado. Do outro lado da rua, antes mesmo deu atravessar, um rapaz. Dirige palavras a minha pessoa. Apenas tenho ciência por conta dos gestos que faz. Ainda não compreendo seus dizeres devido barulho da via. Me aproximo.

- Pois não?
- ... faço o serviço para você.

As palavras que poderiam me conferir entendimento já haviam sido ditas. Cheguei apenas no diálogo final.
            
- Oi? Desculpa. Como é?
- Seu farol queimado. Tenho dessa lâmpada aqui na loja. Da para trocar pra você.
- Ah, sim! O farol. – fico surpreso com a observação do rapaz.

Em meio a tantos veículos passados pelo mesmo cruzamento que passei, mesmo com minha rápida baliza seguida do desligamento do motor e todos componentes de indicação de um veículo em movimento, ele notou.

 - Não. Mas obrigado pela atenção.

Segui com passos de baliza rápida para conferir a realização das atividades que do horário já me encontrava atrasado. Dirigia pensamentos. Eles, bem mais calmos que a desenfreada movimentação urbana. “Ainda se estivesse com dinheiro sobrando, trocava. ”. Fui seduzido por uma ação de Marketing.  

JazzZ

As roupas foram deixadas na poltrona, dois cobertores descobertos no armário deliciosamente aqueceriam a noite fria. Deitou na cama, apagou as luzes e antes de fechar os olhos tateou as mãos na mesinha ao lado. Buscou pelo companheiro, rádio de pilha. Rolou estações e entre barulho-chiado ouviu sertanejo, pregações evangélicas. Ainda não. Rolou até o fim, voltou um pouco. Pronto. JazZ. Boa noite.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Entrevista

          - Então, o que você faz?
          - O que eu faço?
          - Sim. O que você faz da vida?
          - (...)
          - Responda, homem. O que você faz?
          - É .... Diga você.
          - Dizer? Dizer o que?
          - Me diga o que você faz?
          - Eu?
          - É, você.
          - Bem. Eu faço aquilo e aquilo outro.
          - (...)
          - Pronto. É assim. Agora sua vez. O que você faz?

          - Eu faço isso. Escrevo.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Saber +

Foi que um dia ele falou – não que antes fosse mudo, parecia, mas, ao contrário, junto dos colegas falava pra chuchu.
         
          - Prefiro morrer a isso!


          E quase. Pois da vida não sabia outra coisa senão aquilo.  
"Quem me dera". - já pensava a algum tempo. Me deram. Um presente pequeno, mas cheio. Histórias em formato de canções, música para ouvir o tempo inteiro.

Dia de treinamento

Quem treina nossos meninos?

Cap. 1
Na avenida luzes se aproximam, ofuscariam a visão de qualquer um devido a força que transparecem na escuridão. Será um carro?
Luzes da energia privada iluminam a saída de um casal em um dos prédios da mesma avenida.

- Perdeu, perdeu! Passa tudo! Tira o relógio, passa!

Nada de carro. Já perto e já perdido eram duas motos, de ronda, para infelicidade dos transeuntes da via. 
Tensão. Não há arma visível. Tensão. Está demorando muito. Deve de ser a presilha do relógio que não funciona dada as mãos tremulas, sintomas desse abuso que é fruto do descaso com as vidas.
Um grita. O outro está tenso. Posso notar. Fica de apoio.
Na fuga dessa ação, uma busca por trocados, o apoio se atrapalha. Quase fica. É chamada sua atenção.
Está em treinamento.

Cap. 2
Início de noite, movimentado. Horário de retorno aos lares. Dois rapazes caminham. 
Outros também caminham. Uniformizados, voltam da escola; Socialmente vestidos, voltam do trabalho.
Frente ao portão de um prédio um casal de amigos chega depois de horas no trânsito e um papo ainda não concluído. Calor, os vidros abertos.

- Perdeu, perdeu! Perdeu! Desce, desce!

São os dois rapazes e também o casal do carro, todos assustados. Ainda mais os rapazes. O casal, estes, aprenderam com as histórias contadas de tantas outras, não mais vidas e com conselhos cedidos pela própria polícia: não reagir.
Os rapazes se atrapalham. Qual deles vai dirigir? Será que algum deles sabe? Não sabem. Um tenta. Agora não tem mais volta. Tem? Deixar o carro? Arriscado.
Estão em treinamento.