sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Estou chegando

          É, ainda não chegou. E como poderia chegar? Ele exibe o mapa que carrega em suas mãos. Rotas de 30, mofado. Está como ... veja, todo amassado.
          É de imaginar que já tenha voado da janela de carros e se empoeirado em asfaltos, que tenha sido esquecido por tempos na prateleira próxima ao sofá, e depois de tanto, separado para lixeira – acumulados que não queremos mais – dos recicláveis.
          Ele disse ter feito perguntas. Mas as respostas chegavam apenas em informações diagramadas no formato manual. Logo deram a ele um mapa, o mapa, este mapa, você está aqui, vá até ali, e nada mais que um simples, vai logo, rapaz.
          Encontrei-o, com o mapa, nas ruas e avenidas. Pelo seu olhar cansado, já caminhava por tempos de um e de outro lado. Tento ajudar. Sua corrida passa os olhos no relógio de caminho sempre certo, não para. Cobra seu tempo no tempo, e claro, seu tempo, não vence. Diz que fervilham seus pensamentos. Está atordoado. E como não estaria? A cidade 24 horas suas necessidades sempre atendidas, não gosta de esperar. Ele atende o celular.

          - Tô chegando!



terça-feira, 26 de agosto de 2014

Padaria

Sujeito à corrupção – (Padaria)

Me compravam com delícias.
Papai dizia “não conta das biritas”, e o pagamento saia em doces da gringa.
Em casa, pudim de leite na mesa da cozinha, mamãe sorria, e eu soltava a língua. 

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Enganar o sentimento?


Ele ri
Está em mim, tão meu, nasceu dentro, dos caminhos
Não o quero?
Então,
Me quero?
É para você que digo “não”, mas, quero, sim!

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Sinda

            
            uma palavra inventada; um amor de família.


            No quarto os primos travam um desinteressante diálogo. Cada um entretido a sua própria vontade. Juntos apenas por resquícios da infância quando brincavam o dia todo e as particularidades, os momentos privativos, existiam só na hora do banheiro.
            Ele percorria os olhos sobre as linhas de um livro forçando expressões para deixar claro que seu interesse era unicamente a leitura. Manifestava-se por resmungos. Ela soltando palavras e mais palavras, algo sobre um possível roteiro de viagem para o Rio.

            - Preciso pegar um voo pela manhã...
            - Sinda.
            - Estou ocupada com as roupas, menino.  
            - Tá bom.  

            Na manhã seguinte, logo nos primeiros minutos de claridade, o telefone toca ininterruptamente. Chega no mesmo instante a empregada carregada com pão, leite, saindo do elevador, no hall de entrada. Ouvindo o desenfreado toque do aparelho busca na bolsa por suas chaves em um esforço para abrir a porta a tempo de atende-lo.

            - Alô.
            - Sinda! Cadê o Eduardo?
            - Mas isso é hora de ligar, menina? Ele deve estar dormindo.
            - Dormindo? Como assim? Acorda ele, agora!
            - Não acordo, não! Sabe que ele dorme até tarde.
            - Ele disse me levar hoje cedo ao aeroporto. Estou de malas, na calçada, e atrasada. Comentei com ele sobre a viagem ainda ontem. Ele disse: “Sim dá. ”.