quinta-feira, 26 de maio de 2016

Eu homem sem moedas

que não serviriam, servem
pra mim essas que ficam jogadas pelo carro

- Não estou pedindo esmola.

Não serviria, mas  

- Já limpei, piquei, que faço com o resto?
- Embrulha no saco plástico. Já é alguma coisa.
- Guarda?
- Não. Embrulha bem. Eles pegam no lixo mesmo.

Serve com um bocadinho de sal e alho, quem sabe

- O que não serve?
- Tudo serve. Frito em óleo, fogo baixo, serve
- Credo!
- Deixa cozinhar bem, serve

No prato, arroz com pele frita; no copo, caldo quente ralo feito com osso de galinha

- Ai, para.
- Não dá tempo.
- Como assim?
- Quando se está com fome.
- Mas vê só isso!
- Come. Não é ruim.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

da vida sempre



VAZA MENSAGEM ESCRITA PARA NAMORADINHA DA VEZ

- Ele está namorando?
- Não sei. Ele não conta
- Ai, que lindo
- Mas está todo contente, carinhoso
- Ai, que ótimo! Ele é um rapaz tão bonito, não é mesmo?

Vou te ver na terça-feira, quero dizer: vou no show te ver, não!, calma, é que quero ver a banda, não só a banda, mas, é, o show da banda é bom, né? Então é que, pensei em ir no show e, eu já queria ter ido na semana passada, sabe?, ir outra vez e, então que: vai ser bom se eu te encontrar de novo, né? Bem, é isso. Acho que é isso. É isso sim! Um beijo.

- Oi, rapaz, que isso?
- Eu não queria ficar só naquela noite
- Ai, deus, lá vem
- Eu ia falar com você
- É mesmo? Então que deu de errado?
- Então, não sei
- Não entendo isso
- Aconteceu
- Mas não tem que acontecer
- É muita informação, fico confuso
- Não interessa
- Aposto que ninguém vai entender
- Aposto que tem alguém que esteja entendendo sim!
- Nunca entendem
- Também, né? Ó só o jeito
- Não precisa esculhambar, relaxa
- Ah, claro, que graça. Puts!, eu imaginei, imaginei, mas não: vai ser bom – eu pensei, errado, né?

Pausa.

- Pelo amor, não começa. Para. Pode parar. Levanta essa cabeça agora

Levanta.

- E, olha pra mim

Olha.

- Não me odeia
- Não! Mas é claro que não
- Me ama
- Não
- Nossa

Tira as mãos do bolso, cruza os braços.

- Não, não começa. Nós estamos conversando, ok? Pode parar com a cara feia
- Não tenho mais nada para conversar com você
- Ah, não tem? Não tem mesmo? Tem certeza de que não tem? Ok. E isso aqui, ó?

Vira o rosto, não olha.

- Pois você tem sim! Pode tratar de resolver isso

Volta a olhar.

- Como?
- Não sei. Você soube fazer, agora trate de dar um jeito
- Agora já foi
- Apaga
- Agora todo mundo já viu
- Não interessa. Que não vejam mais. Não é você o do “voltar também é seguir”?
- Está dizendo isso porquê? Que quer com isso?
- Enfrente!
- Então, é isso?
- É isso sim!
- Pois, então, está feito


(Edu Xavier Filho - dois mil e 16)

quinta-feira, 12 de maio de 2016

SER

início

(meio)

inteiro

Texto,

que está acontecendo

          em São Paulo,             em São Paulo,             em São Paulo, apesar disso, não sou paulista

Não escrevo pra quem

Escrevo pra quem e quando
acontecer necessário escrever

para todos vocês

E você que lê muito, meu deus!

fale:

que o texto falta

fale mesmo

que a palavra                                    salta

(a página em branco estará mordida)

na sua boca é linda.