terça-feira, 17 de junho de 2014

Zé-ístico

“Não creio. Além de serem só dois caixas, apenas um ocupado?”.

          Isso mesmo, Zé.
          Uma pequena e única agência para os cinquenta prédios de um mesmo bairro.
          Não apenas uma. Uma com dois caixas e só um atendente. Isso em pleno dia cinco, dez, quinze ou o vinte.

          “Engraçado não ser só, um, só, cinco desempregados. É tanta gente à procura de emprego.”
         
          E isso pensa o Zé, na fila, em pé.
          Filas que consomem o tempo-almoço que, de almoço mesmo, só cinco minutos, engolido.
          
          “Como é que pode? Um bairro com tantos prédios e um caixa? Em pleno dia cinco? Isso porque esse é o bairro do trabalho. O meu mesmo nem agência tem.”


          O Zé não era estatístico, mas, em pé, na fila, arriscava; não era humanístico, mas com dor, as pernas cansadas, sabia que aquilo não podia, não dava; não era ‘nutricionístico’, porém, a marmita de arroz, batata e carne assada, não restaria tempo necessário para o particular com a privada.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Vai ou não vai ter Copa?

Vai ou não vai ter Copa?

Telefone 1.

- Tem extensão?
- Como?
- Traz e vai ver!

Telefone 2.

- Tem extensão?
- Tenho.
- Então não esquece de trazer.

Telefone 3.

- Tem extensão?
- Vou levar.

Assim segue mais algumas ligações.

As cadeiras vão chegando e dispostas para acomodar a ocupação do espaço público; fios e mais fios seguem conectados para trazer energia até a rua que aguarda com a tevê; aquele mexe, mexe na antena para sintonizar o que todos querem ver.

- Hoje foda-se. Liga na Globo mesmo.

“VAI BRASIL! ”

domingo, 1 de junho de 2014

Los Rosales

- Se sentó en el niño! se aplastó
- ¡Madre de Dios! Qué horror
- Muerto

Não há como não notar a parede da casa.
De 2,20 metros de altura por 2,50 metros de largura um buraco que virou atração de dedos apontados, mãos levadas a boca e, um delicioso prazer de tomar conta da vida dos outros.
Foi do buraco que saiu carregada por bombeiros a acusada Mayra Rosales.

- Demasiado gordo para matar.
- Oooooh!

O advogado de defesa proferiu as palavras que provocaram coro dentro do fórum. O mesmo coro das casas antenadas no canal ao vivo de televisão. Mesmo assim tem quem diga que fazia, na rua, um lindo dia de sol. 
       
Três anos, oitenta centímetros de comprimento, doze quilos de pura saúde – a vítima – não poderia, sem ser notada, ser esmaga pela mulher de meia tonelada que sem ajuda de mais de um adulto não consegue se mover.
         
- Orden! Declaro el acusado no culpable. Caso cerrado!
       
Mayra foi mais um caso de família; foi a tia acusada de matar o querido sobrinho – morto pela agressão no peso das mãos de sua própria mãe; foi a fartura e o delicioso banquete no happy hour da imprensa sensacionalista.
       

Mulher mais gorda do mundo perde 380 kg após enfrentar acusação de homicídio

Tabloide São Paulo | 20/11/2013 12:58 - Atualizada às 22/11/2013 14:16