segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

cenas cotidiana 4

Golpearam com o carro no poste o seguro que ainda não deu fé do rombo financeiro planejado para janeiro por clientes cansados de mais e mais pequenas palavras em paginas e paginas de clausulas contratuais. Simularam elaborados desastres, tiraram o sono dos jurídicos que falharam ao não notar a falha na página 15, item quatro, asterisco dois.
O estrondo das batidas já sempre corriqueiro da via morte cheia de carros, cada um a sua velocidade, sempre apressada, não deixe para amanhã o que é obrigado a fazer hoje, foi, desta vez, surpresa na seguradora golpeada que teve de anunciar corte de gastos a começar pelo Nespresso servido aos funcionários crentes em uma vida bela das janelas fechadas, de ar-condicionado ligado, tevê, portas trancadas e, por Deus, pela chuva que venha, não falte água.
           Ainda está lá, o carro abandonado pelos meninos que seguiram a pé acostumados na prática manjada pela polícia que já deu as caras. Os agentes de trânsito só mudaram de posição o veículo para não atrapalhar o trafego. Os militares ouviram poucas palavras de testemunhas que, tem coisas na vida que dos outros não dizemos nada, passa. Restaram aos pequenas-grandes-causas, papéis e mais papéis, processos e mais processos de um cotidiano mesmo que, quer saber, por conhecermos é mais fácil de lidar. Manda arquivar.   

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Doces martinhas

martinha, meu amor, tenho que sair mais cedo. Você cuida de tudo? Sim. Uma reunião. Naquele restaurante que lançou tem pouco tempo, no final da rua. Não sabe qual é? Eles não fizeram propaganda na tevê. É novo. Trago a caixinha da sobremesa e dou ela para você. Sabe? Gosto de comer a minha em casa. Falando em tevê, gostou da nova? Sim, maior. Ah, martinha, você é uma linda. Tem sensibilidade para os canais certos. Notei. Os clientes adoram, ficam mais tempo e na hora que dá aquela fome neles estamos sempre prontos para atendê-los, não é? martinha, que bom que topou morar aqui na loja. Lembra que eu vivia dizendo que seria o melhor para você? Ficava muito longe para você voltar para casa todos os dias. Agora, está mais disposta e tem dois domingos por mês para ir ver os meninos, sem chegar de mãos vazias. Te dou bons descontos não é mesmo? Sua mãe cuida bem das crianças tanto quanto cuidou bem de você. Está chegando um modelo de tênis novo, martinha. Os meninos vão adorar. Já aproveita o décimo terceiro. Desconto do pagamento, com desconto. Gostou do computador novo? Está falando com as crianças? Oi? Estão dizendo que sentem saudade? Manda uma foto para eles. É assim, ó. Diz que eu mando um beijo. Sei que eles gostam de mim. E, martinha, aproveita para ver como vai estar o tempo amanhã. Se for dia de sol, já sabe. Levanta mais cedo, toma aquele café reforçado. Então, na hora do almoço, sempre movimentado, a loja não fica sem você. É. Pois, não vai dar para mim. Reunião nesse horário, sabe? Vou dizer para o Zé ficar uns dez minutinhos no balcão. Mas, as clientes gostam mais de você. Dez minutinhos para você dar uma corridinha lá no banco, pagar seus carnês. Mas faz pela internet, martinha. Depois te ensino. Ok? martinha, tchau, vou indo. Se precisar me ligue. Melhor, manda mensagem. Na reunião, sabe? deixo o celular desligado.