terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Sempre me aparece mais um

“Não tem essa, a vida é assim ”

É. Talvez se eu for ao médico, ele me receitar algo que ... QUE ALGO!? O QUÊ!? ah!, vá se foder. Tem pra mim

Isso não é uma competição

- Lá vem você com esses seus papinhos

Para quem está no centro

“Você sabe. Não seja injusto ”

Sei. É verdade. Me ataca a saúde todas essas acumulações. Tenho medo que o elevador pare – lotação máxima 10 pessoas. Tem doze –, que falte o oxigênio no metrô – as portas são automaticamente fechadas para sua segurança e o ar-condicionado zero graus célsius ou desligado. Não posso ficar sem sair de casa. Ou posso? Não quero. Vocês estão todos loucos. Calma, calma. Estão sempre empurrando ou buzinando. Não tenho que aguentar isso
        
Mesmo que seja querido

“Sua casa fica muito longe. É você mesmo quem vive reclamando do trânsito ”

Ele esteve triste com a distância e o bairro onde mora

Mas, rapaz, pense. Já parou para pensar? É aqui, aqui onde você mora, é onde nossa cultura se faz. Fora, pra lá, só manufaturados. Essas coisinhas únicas que o dinheiro pode comprar.

- ai!, Deus! Cada dia tem estado pior. De onde é que você tira essas ideias todas!?


quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Não levanto da cama para fazer nada














- créditos de imagem: a.gulosa.do.insta e gabrirett, obrigado. https://www.instagram.com/p/BBvd8_0L9Jk/


Eu para cidade fui pouco
com o combustível menos de um quarto
E, então, a cidade para mim foi nada

Na noite não encontrei um nada que eu pudesse fazer

Fui a madrugada com a televisão ligada. Não tinha nada
Dormir? Porque mesmo?
De cansado
Eu na cama até às três horas da tarde
Eu não conseguia sair da cama por nada; segurei o xixi, evitei todo e qualquer movimento até não ter mais jeito
Se não tenho nada para fazer não levanto

Não acontece nada! Desse seu jeito nada pode acontecer – você disse

Tem bagunça por toda casa; cadernos e livros, o colchão no chão da sala e a roupa, na lavandeira, acumulada
Aconteceu que você se foi.
Não. Não é por isso que a roupa está acumulada. Aqui cada um lava sua roupa, ou sou eu quem lava, ou quem lava é você. O que quero dizer é que .... Tenho andado cansado, me sinto perdido e fico enrolado com as novas atividades, com as festas de amigos que sou obrigado participar. Querem que eu me esqueça de você

Oi
Oi
Oi!, oi! Tudo bem com vocês?

Duas crianças.  

É para nossa mãe – dizem o nome

São duas crianças lindas
Procurei pela mãe, não a vi

“com amor. Duda” – Pronto!

Partiram e eu as acompanhei com o olhar. Corri a cadeira até o fim da mesa para investigar. Era ela. Não deu para vê-la direito, mas, o nome, a maneira do cabelo preso, era ela. Então as crianças poderiam ser meus filhos

Edu! – alguém chamou minha atenção –, o pessoal está esperando

Eu não parei minhas atividades. Mas, pessoal, peço perdão, minha atenção nunca foi de vocês

Eu não tinha certeza se realmente era ela. Passaram-se tantos anos que as crianças já estavam falando

Eu desisti cedo porque tudo era tão difícil. Eu tinha dinheiro só para o básico. O vô dizia que só para o básico não era possível. Na época ainda não visualizávamos a vida sem dinheiro. Isso não era discutido. Parar a máquina ninguém tinha certeza do que seria. Seria revolução. E todos, ou, melhor, uma parte conservadora de patrimônio temia a revolução. Eu não tinha dinheiro para conservar o que era meu

O vô estava certo. Eu tinha pouco até para o básico. Eu nunca fui contrário ao conforto. E, na verdade, era a vó quem cobria a maior parte de tudo que eu tinha

Eu demorei para estar aqui. Demorei tanto. Mas tudo foi por eles. Tudo que escrevi. Tudo foi pensando para ser – mesmo que nunca fosse –, para estar com ela e com eles

Ou nunca foi e continua sendo só pensado para mim.