- Tô indo.
- Pega o documento.
- Não. Já estou descendo.
- Não vai sem o documento.
Já era hora.
- Não vai dar tempo. Beijo! – Fechando a porta.
Ignição. Luz amarela – reserva.
“Não vai dar tempo ”.
Dez minutos mais.
- Por favor, abastece vinte, álcool.
- A chave!
Desço.
- Reais.
Giroflex
ligado
parado na porta da conveniência.
“O documento! Merda ”.
Não olho.
Olho.
“Não vai dar tempo ”.
Giroflex.
Troca de olhares. Dez litros no tanque com planos para ir e voltar - ir e
voltar quantas vezes achar necessário, no mínimo três.
- Sr., a
chave.
- Valeu!
- Débito ou crédito?
- Dinheiro.
Menos dez minutos. Menos um viaduto dos quatro até ao
centro.
- Esse que acabou de sair, quanto foi que abasteceu?
- Qual?
- Do carro vermelho.
- Vinte.
- O que?
- Reais.
- Ele é daqui?
- Não sei.
- Primeira vez dele?
- Não. Vem sempre.
- Que mais que sabe me dizer?
Parada. Trânsito. Giroflex
no local de sempre – em cima do canteiro entre vias –, atentos. No carro:
vidros abertos, luz interna acesa e o celular que toca e vibra, vibra e toca. Viva-voz.
- Oi.
- Pegou o documento?
- Não deu tempo. Agora não dá para falar. Depois te
ligo.
Um, dois, três, quatro cruzamentos, vire à direita,
vire à esquerda, uma vaga. Para. Giroflex
na porta do trabalho.
- Ei, rapaz, trabalha aí?
Afirmativa com a cabeça.
- Sim. Aconteceu alguma coisa?
- Apenas averiguando. Tem documento?
- Como?
- R.G.
- R.G.? Tenho. Só preciso deixar umas coisas lá
dentro.
- É? O que?
- Só alguns textos.
- Que tipo de textos?
- Só alguns poemas.
- É? E você publica?
- Sim.
- Assina como? Só pra
saber.
Edu Xavier Filho – 2 mil e 16.