Escritório,
centro da cidade.
- Leva esse
envelope até a Sete de Abril. Muito cuidado.
- Pai,
posso ir com ele?
- Pode.
- Posso ir
com você?
- Pode.
Elevador.
- Gosta de
videogames, não gosta?
- Gosto.
Sábado, 10
horas da manhã, dia tranquilo.
- Vem. Vou
te levar num lugar maneiro.
- Mas e o
envelope? Melhor entregar, né?
- Sim,
sim. Mas já é ali, vem.
- Tá.
Avenida
São João. Fliperama.
- Eu posso
entrar aí?
- Não, pode,
vem. Pega nada.
- Dá uma
ficha.
Máquina seis,
fundo da loja, perto das mesas de bilhar. Pouco movimento. Apenas quatro
pessoas no local (o dono, um rapaz, o pequeno e o mais velho).
A ficha desce
a máquina, explode um som forte dos falantes, o jogo começa, o pequeno se
assusta. Sabe pouco do jogo, do joystique
nada parecido com os controles que tem em sua casa.
Com o envelope
embaixo do braço o mais velho tem dificuldade para executar os movimentos. Então,
com uma das mãos retira o envelope enquanto a outra continua para não pausar a
diversão, coloca-o entre o joystique e
a tela, um vão.
O envelope
cai para dentro do móvel que lacra e esconde o aparelho de computador e os fios
que fazem piscar luzes e vibrar os sons do empolgante universo digital.
Entre o
chão e o móvel pesado não há espaço que seja possível passar uma mão. Mesmo a
mão do pequeno, mesmo uma caneta Bic
que tenta alcançar o documento.
- Ei, caiu
meu envelope dentro da máquina. Tem como abrir e pegar, por favor?
- Dançou,
rapaz. Só segunda-feira – disse o dono que nem se mexeu da cadeira, nem fez
questão.
- Dancei o
caramba – sussurrou o mais velho para o pequeno – vê isso.
Pegou dois
tacos expostos na parede da seção de bilhar e fez deles instrumentos para
pescar o envelope que trazia na capa, escrito: Caixa Econômica Federal.
No vão
entre a tela e o móvel manipulou os tacos que faziam barulho ao escaparem das
mãos e ao baterem no tampão.
- Ei, moleque!,
se quebrar vai pagar. Tá entendendo?
O pequeno
segurava o choro, já estava apavorado, queria ligar para o pai.
- Beleza,
consegui! Vamos sair daqui.
O mais
velho tomou a mão do pequeno, saíram às pressas e no caminho, o pequeno mais
calmo, largou da mão do mais velho.
- AQUILO
FOI MUITO MASSA!
De volta
ao escritório.
- Vocês
demoraram. O que aconteceu?
- É que eu
quis um sorvete – disse o pequeno – Mas o sorvete derreteu, caiu. Voltamos para
comprar outro. Demorou.
- Sei. Sorvete?
Tá. E a essa hora? Cada uma, viu.
Fim do
expediente, hora do almoço.
- Ei,
valeu. Vem. Te devo um sorvete – disse o mais velho.
- Dessa
vez se num tá levando nada, né? – retrucou
o pequeno.