terça-feira, 8 de setembro de 2015

Foi massa

Escritório, centro da cidade.

- Leva esse envelope até a Sete de Abril. Muito cuidado.
- Pai, posso ir com ele?
- Pode.
- Posso ir com você?
- Pode.

Elevador.

- Gosta de videogames, não gosta?
- Gosto.

Sábado, 10 horas da manhã, dia tranquilo.

- Vem. Vou te levar num lugar maneiro.
- Mas e o envelope? Melhor entregar, né?
- Sim, sim. Mas já é ali, vem.
- .

Avenida São João. Fliperama.

- Eu posso entrar aí?
- Não, pode, vem. Pega nada.

- Dá uma ficha.

Máquina seis, fundo da loja, perto das mesas de bilhar. Pouco movimento. Apenas quatro pessoas no local (o dono, um rapaz, o pequeno e o mais velho).
A ficha desce a máquina, explode um som forte dos falantes, o jogo começa, o pequeno se assusta. Sabe pouco do jogo, do joystique nada parecido com os controles que tem em sua casa.
Com o envelope embaixo do braço o mais velho tem dificuldade para executar os movimentos. Então, com uma das mãos retira o envelope enquanto a outra continua para não pausar a diversão, coloca-o entre o joystique e a tela, um vão.
O envelope cai para dentro do móvel que lacra e esconde o aparelho de computador e os fios que fazem piscar luzes e vibrar os sons do empolgante universo digital.
Entre o chão e o móvel pesado não há espaço que seja possível passar uma mão. Mesmo a mão do pequeno, mesmo uma caneta Bic que tenta alcançar o documento.   

- Ei, caiu meu envelope dentro da máquina. Tem como abrir e pegar, por favor?
- Dançou, rapaz. Só segunda-feira – disse o dono que nem se mexeu da cadeira, nem fez questão.

- Dancei o caramba – sussurrou o mais velho para o pequeno – vê isso.

Pegou dois tacos expostos na parede da seção de bilhar e fez deles instrumentos para pescar o envelope que trazia na capa, escrito: Caixa Econômica Federal.
No vão entre a tela e o móvel manipulou os tacos que faziam barulho ao escaparem das mãos e ao baterem no tampão.

- Ei, moleque!, se quebrar vai pagar. entendendo?

O pequeno segurava o choro, já estava apavorado, queria ligar para o pai.

- Beleza, consegui! Vamos sair daqui.

O mais velho tomou a mão do pequeno, saíram às pressas e no caminho, o pequeno mais calmo, largou da mão do mais velho.

- AQUILO FOI MUITO MASSA!

De volta ao escritório.

- Vocês demoraram. O que aconteceu?
- É que eu quis um sorvete – disse o pequeno – Mas o sorvete derreteu, caiu. Voltamos para comprar outro. Demorou.
- Sei. Sorvete? . E a essa hora? Cada uma, viu.

Fim do expediente, hora do almoço.

- Ei, valeu. Vem. Te devo um sorvete – disse o mais velho.

- Dessa vez se num tá levando nada, né? – retrucou o pequeno.