quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Sinda

            
            uma palavra inventada; um amor de família.


            No quarto os primos travam um desinteressante diálogo. Cada um entretido a sua própria vontade. Juntos apenas por resquícios da infância quando brincavam o dia todo e as particularidades, os momentos privativos, existiam só na hora do banheiro.
            Ele percorria os olhos sobre as linhas de um livro forçando expressões para deixar claro que seu interesse era unicamente a leitura. Manifestava-se por resmungos. Ela soltando palavras e mais palavras, algo sobre um possível roteiro de viagem para o Rio.

            - Preciso pegar um voo pela manhã...
            - Sinda.
            - Estou ocupada com as roupas, menino.  
            - Tá bom.  

            Na manhã seguinte, logo nos primeiros minutos de claridade, o telefone toca ininterruptamente. Chega no mesmo instante a empregada carregada com pão, leite, saindo do elevador, no hall de entrada. Ouvindo o desenfreado toque do aparelho busca na bolsa por suas chaves em um esforço para abrir a porta a tempo de atende-lo.

            - Alô.
            - Sinda! Cadê o Eduardo?
            - Mas isso é hora de ligar, menina? Ele deve estar dormindo.
            - Dormindo? Como assim? Acorda ele, agora!
            - Não acordo, não! Sabe que ele dorme até tarde.
            - Ele disse me levar hoje cedo ao aeroporto. Estou de malas, na calçada, e atrasada. Comentei com ele sobre a viagem ainda ontem. Ele disse: “Sim dá. ”.