Depois de pensar muito, ensaiar
diálogos, abro a porta e vou direto com o dedo preparado, apontado. Droga. Toda
vez sempre isso o cachorro latindo. Me entrega na saída, na entrada. Vou com o
dedo no botão do vizinho. Não, não pense bobagens. “Ding Dong”. Ainda mais latidos.
Puta merda cachorro chato. Mas fazer o que? Estou desesperado. Suando, aguardo.
Deixei de lado a desculpa de pedir açúcar emprestado. Já tinha pedido na
retrasada e arroz na semana passada.
- Oi boa noite tudo bem? Estou na
varanda tomando uma cerveja o que acham de me acompanhar? Escolham o som, poço
trocar. Topam?
Me entrego aos vizinhos que
sempre julguei chatos. Vou de pedidos de açúcar que já tenho, arroz que até
hoje não sei fazer e agora essa de convite para cerveja que nem sei se eles são
de beber. Tudo porque depois das oito horas às ruas estão vigiadas, os bares e
até as padarias estão trancafiadas. É toque de recolher em cima dos papos
descompromissados. Não pode mais aglomeração de pessoas. Alguns lugares muito
bem fiscalizados, restaurantes 10 pessoas lotação máxima e quando sair, entrar,
ligar e rodar com carro será autuado, questionado, documentos variados para
apresentar.
Por isso, os vizinhos. Pois está fechado aquele bar de meio
de caminho quando reunimos os amigos. Tentamos nos reunir nos apartamentos, mas
depois das dez horas, de carro, na rua, tem que ter vários documentos, já sabe, um
saco. Apartamento. Sente soar? Apertado. Tentamos. Não funcionou. Seis horas da manhã todo
mundo um único banheiro, todos atrasados.