quarta-feira, 2 de agosto de 2017

CADA MELANCOLIA UM RETRATO

Como em todo começo, estávamos juntos. Acontece que já apontava os fins do verão daquele ano. Já corriam as primeiras semanas das jornadas de trabalho.

Já estávamos cansados.

Nesse dia, às cinco, nos encontramos depois de semanas em que você esteve fora, de férias. Nos beijamos tanto. Logo tiramos os calçados e eu tirei suas calças. Comecei a lamber. Lamber. Lamber. Chupar. Parei.

Pensei que deveria ser dito, não dissemos, precisamos conversar. Pois quase nunca conversamos. Contudo ficamos mudos. Fingimos que não fosse nada. Então, eu ali fiquei ao seu lado. Não mais te toquei. Você seguiu. Você me segurou o pulso direito com a mão esquerda, me olhou enquanto se tocava como que dizendo, nem pense sair daí. Fiquei apenas olhando. Você fez, com a mão direita, tudo muito rápido.

- Quero um banho. Me dá uma toalha.

Levantei. Fui até o armário.

- Aqui.

Não tomamos banho juntos. Não nos falamos enquanto comíamos algo.

- Quero ir embora.
- Vamos.

Depois, a volta, é sempre horrível. A casa fica vazia. A cama fica para arrumar. E nosso cheiro fica nos lençóis, nos travesseiros.

“ Chegou? ”

“ Acabei de chegar ”

“ Blz. Boa noite ”

“ Beijo ”

Já era noite. Mas não noite suficiente para meu sono. Eu nem mesmo conseguiria me deitar.

Me enrolei no sofá. Fiquei um tempo. Segui vendo fotos pelo celular. Levantei. Fui até o banheiro. Tirei a roupa. Voltei no quarto, enchi a mão com creme. Sua imagem deitada na cama, aquela velocidade clamando pelo gozo. Gozei.

Depois eu me deitei. Depois eu dormi. Depois amanheceu.