com o caderninho,
no chão
- como é mesmo!? –
gritou
- senhor!, Ei,
senhor, você está bem? Não pode gritar aqui não
talvez tomasse
nota,
“
uns com tanto e outros com ”
- Estou –
respondeu e continuou – “ nada ”. não
é nada.
sozinho
“
a linha quatro amarela do metrô agradece a preferência ”
no falante.
- de quem?, de
quem é a preferência?, ein? –
Levantou. – coisa nenhuma. foram dois ônibus até a primeira estação – a mais
perto – da linha azul
Nos esbarramos a
caminho da linha três
- Desculpa – Eu
disse
- Espere!
parei
- você ouviu? você
tem um minuto?
E ele continuou
- Eu estava em
casa. Tinha as galinhas para alimentar, “
alimentar as galinhas ”, tinha ovos, “
ovos para o almoço ” e, plantas, merda!, esqueci, “ regar as plantas ”
falava e, tomava
nota
- Nem passei o café.
falaram comigo. você ouviu!, não ouviu?
“ levanta, vai
trabalhar ”
- Tem tempo essa
gravata, esse terno. Pra onde fica o
centro?
Nas placas – quem
te movimenta? – orientação
- o senhor tem de
fazer baldeação
- certo
“
baldeação ” – no canto superior direito. na folha. que
não cabiam mais as palavras
- que linha é
isso?
- Em qual lugar do
centro o senhor vai?
- Não sei. Eu
morava sozinho. Então, ei!, eu morava sozinho. falaram comigo, mas, eu morava
sozinho
com o lápis em
riste saiu absorvido pela multidão
- só pode estar
louco – Eu disse falando
sozinho
com o que tenho
o que posso fazer?
vou ficar
colocar mais água
no feijão.
muito melhor.
vamos
não em todo lugar
- onde?
no escritório, o
prego e a Lua, na parede, fuga
fuja
vem
cá
a casa
é a própria cidade
vou ficar
Lendo
chamaria: “ Não um
texto ”, um recado
talvez uma carta?
Na verdade, muito
mais que isso, um processo
No histórico, no
meu e-mail, encontrei conversas nossas
para deixar
engraçado, pensei: melhor reescrever
que não fique
bagunçado
você chega e me
desarruma inteira
Não. calma, não é
isso
foi eu quem pediu
o acontecido, impediu o acontecer
Eu estava, mas
logo, desculpa, cansei
a vontade é dizer,
digo: estou com saudade, a cama, do lado da cama [sempre] meu [seu]
Não exatamente
nessa ordem, não exatamente aquele dia, aquela vez, não de você, o lado da cama
Minha cama só não
me acolhe. que coisa!
Entenda
nunca é bom perder
você ou alguém, que seja
mesmo que eu
conheça e viva maravilhas com outra pessoa
não é isso
conhecer outra
pessoa é bom, é outra coisa
perder você nunca
foi bom
não tenho
paciência para explicações, você sabe
quando tanta coisa
chata está rolando
penso contar com
você que não entende, mas, poxa, ouvir, você ouve bem
Também quero saber
de você
porque,
aqueles textos
todos?,
você escreve para
quem?
são bons
Pois, antes que eu
me esqueça, ou, para que eu não tenha de me lembrar depois
.bolo de banana.
Não gosto mais. Embrulha o peito
.Mudei as músicas.
com muita coisa nova rolando, aproveita a oportunidade
Não me leve a mal
que o pen-drive,
faz lembrança dele, um chaveiro, que acha?
Isso de guardar
... credo! que te guardei de um jeito, você não é assim
vim para
esclarecer o que faltava, desembrulhar o peito
Talvez, quem
sabe?, você de volta, do lado da cama posso me deitar em silêncio. falar e
falar, ir diminuindo até pegar
no sono
o que for melhor
para nós dois?
cama grande,
coração vazio – fica lugar comum
Não fica?
Me ajuda?
Não estou
confundindo ninguém!
seria mais fácil
ficar sem você, foi o que pensei.
Mas depois dos
trinta dias
mais de meses
você deve estar
pensando: que lado da cama é esse que ela está falando?
- você dorme na
diagonal
Lembra?
você quem disse.
Logo que eu acordei
Logo ela que não é
disso
ficou até tarde
visualizava e
respondia sem os longos intervalos de tempo
Longos intervalos
de tempo. Eu nunca soube se bem ou mal – seria um charme?
Não era
Me irritava muito
Não quero mais te
ver
Na madrugada sem
beijo, sem abraço, sem graça, só
Ela que sempre
dormiu primeiro
Tchau
Beijo
Vou dormir
E eu que sempre
fiquei
Dessa vez fiquei
com as lembranças das boas noites
Eu estava com sono
Devolve minhas
músicas
Foi um presente
para dizer com letras
“
veja bem, meu bem ”
“
olha só, moreno de cabelo enroladinho [e], olha com carinho nosso amor ”
Eu ouço no carro
Não devolvi
Ela tem as músicas
no celular
Fiquei com o
pen-drive chaveiro da chave da porta de casa
Fiquei na padaria
sentado, no balcão
- um sonho
- oi, moço, minha
irmã esteve aqui?
Meu olhar no
atendente
- Não sei – ele
disse
Meu olhar nela
- Meu deus!, você
aqui?, o que está fazendo aqui?
- Estou procurando
minha irmã. você viu?
a irmã que não
mora aqui no bairro. que não sabe dessa padaria. ou sabe
- Não
- ah, que bom
- como?
- Não, nada,
esquece
Deixamos a
padaria, atravessamos a rua, seguíamos juntos
- que livro é
esse?
Eu tinha dois
livros em uma das mãos
- onde deixei o
carro?
- Não é esse aqui?
– Ela apontou do lado direito
- ah, claro
Da esquerda, eu
sempre trago os livros
- segura! dá uma
olhada, é bom
- massa
Seguimos para o apartamento
- adoro sua casa
Tirou e deixou os
sapatos perto da janela, deitou no sofá, correu o olhar nos detalhes
(Tem coisas que
ficam da última até que chegue sua próxima visita)
Eu corri ver se
tudo estava em ordem
Na parede de lousa
“
acordei cedo para não dormir tarde. dormi, muito antes de anoitecer ”
- Eu tenho que ir
– ela disse
- Mas nós acabamos
de chegar
- amanhã eu
trabalho
- Mas ainda é cedo
- Mas sempre fica
tarde
Tentei um assunto
– na estante de livros – nada
Então, eu
que para cidade fui pouco – combustível menos um
quarto – o todo do que tenho para contar
- É mesmo pouco. E
pouco não vai dar. por favor, não me procura mais
Não encontrei nada
possível além da televisão ligada
um dia que fui na
cama até ás três horas da tarde
Não levanto para
fazer nada se nada tem que possa ser feito
- Tá. Então tá. Então vamos
- Não precisa,
pego um táxi
- Táxi? Não,
imagina, um táxi? Não. levo você
- Não precisa
- Prefiro levar.
aproveito, saio para fazer algumas coisas
Eu não tinha nada
para fazer
- Meus pais estão praparecer lá em casa
- Legal! – disse
para ser simpático – você deve estar com saudade deles
- Não quero que
eles te vejam
com o que me visto
nas mesma roupas
poucas que ainda me cabem bem
- Tá
sou feito carne e
osso, feito com gengiva e dentes
também sou feito
gente
no mesmo espaço,
no mesmo horário, no sol a pino, sem ter por perto um verde visível – só o
asfalto e os muros todos altos
acenou pra mim
com esforço
escapou seu maior
desejo
- Diz pra ele esperar um pouquinho
atendi
- Ei
- Não posso – com
a primeira engatada
- Mas a senhora –
indiquei com os braços
- Me desculpe – e
partiu
Não pôde. entende?
claro! que entende
não é mesmo?
que da sacola, da
senhora, do mercado, no asfalto, do alimento escorrem gotas de água – e mais
essa, quem garante que seja fresco?
vê?
as conduções não
são as mesmas porque as condições são diferentes
Então eu me
desculpo
- Sei, meu filho.
sei.
e vou embora
Eu não soube o que
dizer. vai ver ela estava apenas nervosa
ficou ali mesmo
- Não precisa dar
a volta
- Mas aqui?
- É
na esquina da
casa, no farol fechado
- Não quero tomar
seu tempo
É que você não
veio o suficiente para aprender que não
Não
tem interruptor na parede de lousa
o azul no
travesseiro, no seu rosto, não sabíamos, como?
acordei na
madrugada
fui buscar um copo
com água – você sempre me pedia um copo com água –
no final do
corredor levei a mão direita na parede de lousa
Na
parede de lousa não tem interruptor
notei que não
resolveria saber que não tem interruptor
na parede de lousa
toda vez que você
passar pelo corredor pode pintar a mão na cor
verde amarela azul
rosa ou laranja
apagar minhas
anotações
Por que não
colocamos interruptor na parede de lousa?
escrevo reescrevo
quantas vezes preciso for suas idas e vindas do corredor
- ficou tarde
- é, dorme aí
um charmoso studio sem divisórias
cozinha sala
quarto
só no banheiro,
cercado por blocos de vidro – transparente
um colchão casal e
almofadas
- preciso de um
banho
somente as roupas
para lavar cobriam os corpos depois do chuveiro
desejei secar o
cabelo, demorar um pouco mais
todos já estavam
deitados
um único lençol
e o toque era
inevitável durante, qualquer fosse, o movimento
Eles com riso nos lábios
fizeram chacota no meu cabelo
- boa noite, moço
Pelo elevador
social, pela porta da sala
vou para o almoço,
para janta, ou para o café
vou e fico para
descansar
- boa tarde
- boa tarde
Na hora do chá
- Tem café pronto,
fresquinho
reparo as panelas
no fogão, as frutas na mesa, deve haver suco na geladeira
- ficou sem comer
até agora, não foi?
- não. fiz um
lanche por aí
- veio uma moça
logo cedo
- como?
- deixou uma
criança comigo, logo cedo
- que criança?
- seu filho
- filho?
- é. não sei.
Disso quem tem que saber é você
- mas quem é essa
moça? E a criança?
- não perguntei.
Eu estava com as panelas no fogo. a moça tinha um anel no dedo. deixei no
quarto
- o anel?
- a criança
- mas, e a moça?
- não sei!
- É ela
- quem?
Teve a mãe de
querer o filho registrado com o nome do pai e Filho sem o santo dos Santos
- Tudo bem
O pai sempre
presente deixou para mãe o menino com doze anos
Foi de uma falta
de ar direto para um câncer no pulmão e nunca mais voltou
Não levou o maço dos
cigarros e as cinzas sempre caem quando a gente passa correndo no corredor
Em CASA DE MÃE o
passeio deita na cama saudades
O menino, hoje, um
rapaz, faz visitas leva pó de café, detergente, sabonete, um pouco de açúcar,
frutas
Faz compras apenas
quando você vem
quando você vem?
“
Eu não posso ter um filho ”
Ela adora crianças
“
você não tem juízo? Se acontece alguma coisa? quem resolve? Você? ”
Minha curiosidade
quem primeiro viu o bebê, na cama, num cobertor florido, com os olhos fechados,
sem ver o pai
- que vou fazer?
Despertou o choro
quando vibrou meu celular
a mesa estava
posta assim que levantei
- dormiu bem?
café e leite,
leite e nescal, só leite, suco de
laranja, chá verde mate ou preto, pão e manteiga, queijo e goiabada
Mas
Não vai dar
Não vai dar
Não sei
Você não vai
entender, eu não vou explicar
“
tem dias que é foda. Mas tem outros ”
- Desculpa,
demorei. Tudo bem?
- Tudo. só quero
chegar logo em casa
Na sexta-feira
pega carona, pega estrada, passa o fim de semana na casa dos pais
Não era
sexta-feira. Era um dia foda e mais o capeta no corpo dos alunos
“
Nossa!, deus do céu ”
Envio mensagem
quando ela sai do trabalho. Raramente ligo.
Ela parou na
lanchonete para um petit gateau antes
do francês – às oito horas
Me ligou?
Não vai dar
Tenho aula
Deixa de lado o
aparelho na mesa, aparece um conhecido
- que bom te ver!
- vamos marcar
alguma coisa
- sim! te ligo
sete horas e
trinta e sete minutos, espera pelo primeiro ônibus que passe, o primeiro sempre
vem lotado
- saco! – toma um
remédio, odeia tomar os remédios
Estou indo para
aula, depois vou para casa. Estou
cansada. consegue entender isso?
Toma um banho, vai
deitar
o lençol manchado
deita direto no
colchão – sem tempo para lavar o lençol
Procuro entender.
Mas como não respondi as mensagens
Não me deixa
falando sozinha, ok?
cheguei
duas e dez,
madrugada. sento no banco da mesa da sala. Escrevo. para resolver. o livro
- moço
- moço
- assina?
- claro
duas crianças
- é da mamãe
o mais velho diz o
nome
“
na arte, com a arte, pela arte, nosso caminho, que seja doce, boa leitura, com
amor, Edu ”
- Pronto! – entreguei
o livro – aqui! obrigado, crianças
segui com o olhar,
corri com a cadeira até a ponta da mesa, vi a mãe de costas, a maneira do
cabelo preso, o nome
eram duas crianças
lindas
- Edu! o pessoal
está esperando
Foi ontem, não
foi? Estávamos resolvendo as coisas, trocando mensagens no celular
E as crianças já
estão falando?
Tudo, um dia, é
tão difícil. sem solução. E no outro
segui com o
trabalho
“
Não é suficiente ”
o vô estava certo
era a vó quem
cobria a maior parte de todos meus gastos
foi o tempo
- se a gente
quiser a gente volta
- como isso?
- voltar também é
seguir
- de que jeito?
- enfrente
Edu
Xavier Filho
2016
Vila
Mascote, São Paulo, Brasil