Ah,
menino, relaxa. Não te preocupe tanto. Vai, sim, dar tudo certo. Você vai
gostar. Eu sei.
Não, não,
não. Não se assuste. Calma.
Sei dos
teus medos. Isso de espíritos, sonhos do sobrenatural, tudo balela para nos
assustar. Pois dessa maneira podem nos controlar com mais facilidade. O medo
vende.
Fica
tranquilo. Mesmo que existam coisas assim, simplesmente deixamos para lá.
Tem tantas
outras coisas boas para fazermos. É tanta que na verdade eu ainda nem sei.
Então, não
precisa se assustar. Isso é só o nosso, quero dizer, meu pensamento. Pensei,
lembrei de você agora pouco, resolvi aparecer para bater um papo.
Nesse
momento, enquanto penso, estamos, estou muito bem acompanhado. Ela é linda. Vai
ver.
Vamos assistir
uma peça de teatro proibida para menores de dezoito anos. Nada do que você com
14 anos já não esteja vendo. Mas agora você começa a entender de uma maneira
diferente. Tem arte, tem política, tem critica nos contos de um doido chamado Sade,
Marques de Sade.
É cara,
existe, sim, vida além desse nosso bairro, desse prédio, desse apartamento.
E essa
vida já está acontecendo, graças a Deus, enquanto nós, você está aí no nosso
antigo quarto, na casa dos nossos pais. Casa de nossa mãe na verdade.
Ainda
sentimos muita saudade do velho, então, vá com calma no choro. Ainda vai ter
muito tempo e momento para chorar, sorrir saudade.
Hoje,
aqui, é sábado, assim como também é noite de sábado aí para você. É, nessa
nossa idade, sua idade, mamãe não nos deixa sair muito. É uma merda, eu sei. Eu
sei.
Você vai
entender. Ela tem medo. Pois, na tevê só falam de violência. E, claro, como não
seria?, as ruas estão vazias depois das seis, os muros bloqueiam a convivência,
a oportunidade não é para todos e todos querem ter. Ela tem medo que você faça
coisas erradas. E aí, ela sem o marido, sem o papai, não saberia bem como agir.
Ela sofre tanto quanto nós desde a morte dele.
Não deixe
de fazer as cosias que tem vontade, mas tenha calma com coisas que ainda não
nos permitem fazer.
Leia
livros.
Você já
gosta de ler que eu sei. Já tem um ano desde que leu “As mil taturanas
douradas” do Furio Lonza com ilustrações do Angeli (o cartunista das histórias
em quadrinhos que tanto curtimos ver no jornal).
Volta para
livraria, como naquele dia, lembra?, e procure mais coisas desses dois. Ou
busque por escritores, desenhistas que estão nessa mesma linha.
Não tenha
vergonha. Você realmente não liga para futebol. Nem precisa ligar.
Cara, te
amo, desejo seu bem, então, ouça, desde já (se é que pode me ouvir), volte a
ler. Vai adiantar muita coisa para nós, para mim. Nós no dia de hoje, atual.
Sabe?
Se bem que ... quer saber?, continue assim,
você está indo muito bem.