compareceram em números: os parentes – vieram de carro, outros de ônibus,
alguns passaram a madrugada na estrada, assim também os amigos e os amores
todos desejam um dia, nesse dia, serem reconfortantes
ESPERA-SE a morte.
como uma placa no portão. afinal, é a única certeza. mas acontece que,
na hora, ninguém ninguém ninguém quer recebe-la
se você já perdeu um filho
...
se você já ... viu um filho morto?
- porque!? porque?! porque!? – você grita
e nessa hora, quem explica?
com tantas histórias no mundo... porque escrever a morte?. porque tanta
morte há de escrever? se ainda vivo
- talvez por isso
mas apenas talvez
observe o homem de óculos escuros, distante, parece não dizer que seja
uma só palavra, um só cumprimento que seja, distante, acena com a cabeça,
somente, seja quem quer que chegue, parece evitar, mantém cruzado os braços
- o tempo inteiro?
escondidos atrás do corpo
como a mãe chorava, também chorou.
- nada mais há que possa ser feito
chega um momento em que na sala todos parecem: cansados? riem, contam
histórias e relembram outros momentos. que mais fazer, que não chorar?
- ei, baixinho, vamos ali comer alguma coisa
- vê um chokito, pro menino
aquele doce foi tão importe quanto a dose de pinga
- Tio, quero voltar
num só gole
- vamos
quando voltaram procurou pelo homem de óculos escuros, nada. quando se
viu refletido no vidro, já não era mais um menino.