domingo, 26 de julho de 2015

Irmão mais velho


Ah, menino, relaxa. Não te preocupe tanto. Vai, sim, dar tudo certo. Você vai gostar. Eu sei.
Não, não, não. Não se assuste. Calma.
Sei dos teus medos. Isso de espíritos, sonhos do sobrenatural, tudo balela para nos assustar. Pois dessa maneira podem nos controlar com mais facilidade. O medo vende.
Fica tranquilo. Mesmo que existam coisas assim, simplesmente deixamos para lá.
Tem tantas outras coisas boas para fazermos. É tanta que na verdade eu ainda nem sei.  
Então, não precisa se assustar. Isso é só o nosso, quero dizer, meu pensamento. Pensei, lembrei de você agora pouco, resolvi aparecer para bater um papo.
Nesse momento, enquanto penso, estamos, estou muito bem acompanhado. Ela é linda. Vai ver.
Vamos assistir uma peça de teatro proibida para menores de dezoito anos. Nada do que você com 14 anos já não esteja vendo. Mas agora você começa a entender de uma maneira diferente. Tem arte, tem política, tem critica nos contos de um doido chamado Sade, Marques de Sade.
É cara, existe, sim, vida além desse nosso bairro, desse prédio, desse apartamento.
E essa vida já está acontecendo, graças a Deus, enquanto nós, você está aí no nosso antigo quarto, na casa dos nossos pais. Casa de nossa mãe na verdade.
Ainda sentimos muita saudade do velho, então, vá com calma no choro. Ainda vai ter muito tempo e momento para chorar, sorrir saudade.   
Hoje, aqui, é sábado, assim como também é noite de sábado aí para você. É, nessa nossa idade, sua idade, mamãe não nos deixa sair muito. É uma merda, eu sei. Eu sei.   
Você vai entender. Ela tem medo. Pois, na tevê só falam de violência. E, claro, como não seria?, as ruas estão vazias depois das seis, os muros bloqueiam a convivência, a oportunidade não é para todos e todos querem ter. Ela tem medo que você faça coisas erradas. E aí, ela sem o marido, sem o papai, não saberia bem como agir. Ela sofre tanto quanto nós desde a morte dele.   
Não deixe de fazer as cosias que tem vontade, mas tenha calma com coisas que ainda não nos permitem fazer.
Leia livros.
Você já gosta de ler que eu sei. Já tem um ano desde que leu “As mil taturanas douradas” do Furio Lonza com ilustrações do Angeli (o cartunista das histórias em quadrinhos que tanto curtimos ver no jornal).
Volta para livraria, como naquele dia, lembra?, e procure mais coisas desses dois. Ou busque por escritores, desenhistas que estão nessa mesma linha.
Não tenha vergonha. Você realmente não liga para futebol. Nem precisa ligar.
Cara, te amo, desejo seu bem, então, ouça, desde já (se é que pode me ouvir), volte a ler. Vai adiantar muita coisa para nós, para mim. Nós no dia de hoje, atual. Sabe?
Se bem que ... quer saber?, continue assim, você está indo muito bem.   

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Coce a barba

          
          Nem todos pensam.
          É ... só faça.
          Pois, pensar? Complicado.
          Entender então, difícil.

          Não chame atenção.
          Vista isso: camisa, calça, sapato e, por favor, o cabelo: mantenha-o sempre cortado.
          Não misture os gêneros.
          Se feminino, saia.
          Entre às 7 e deixe às 17 horas caso não seja obrigado a fazer mais alguns afazeres.
          Mas, não se preocupe. É simples.
          Não precisa coçar a barba.
          Pare.
          Melhor. Tire a barba.
          Está tudo aí na cartilha.
          Mas, veja, nem precisa ler.
          É só ver.
          Não me olhe com essa cara.
          Não complica. Não inventa.
          É ... segurança!
          Não complicamos para você.