sexta-feira, 19 de junho de 2015

Cotidiano outro

Eu tinha acabado de deixa-la em casa. Tivemos uma noite de jantar com vinho, à luz de velas. Bela noite, Bela.
Voltei dirigindo um namoro de olhar atento nos apartamentos de janelas abertas, luzes acesas.
Na rua, tarde, ainda cedo de pares beijoqueiros em pontos de ônibus, cedo dos grupos de amigos ‘altos’, saindo de casas de shows.
Eu movimentava um cigarro, que não fumo, regendo o pensamento ao som de jazz. Tocava, na rádio, um saxofonista na janela última de um prédio ao fundo.
Foi incrível ver a cidade mágica. Logo eu que, tenho o olhar sempre tão teimoso, que vejo apenas a realidade amarga.

Foi conta dela. Uma alegria sem rotina. Juntos outra vez.     

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Pra manhã

Pra manhã 

Eram onze horas da noite quando tomei a contramão, deixei cama e cobertas para mais tarde. Segui caminhando pelas ruas do bairro, fui encontrar um amigo. Fazia dois meses que ele pagava suas contas trabalhando como garçom em um dos melhores restaurantes da região.  
Uma suntuosa fachada entre duas grandes árvores de copas arborizadas recebia veículos, um seguido de outro, todos atendidos pelo pequeno valete com sua placa de informativo, preço alto.       
Mesmo distante – na mureta da calçada oposta – pude observar, graças à grande janela, o interior do salão. Imaginei o aconchego de velas acesas, o calor dos pratos, o sabor dos vinhos.     
Há poucos metros do restaurante, avistei um carro de lanches. Fui comprar uma cerveja long neck com a única nota, cinco reais, que tinha na carteira. Na calçada próxima, mesas e cadeiras dispunham lugares e, em um deles,  uma moça balançava um dos pés, fumava um cigarro. Aproximei-me e perguntei se estava tudo bem. Ela me olhou e questionou se eu a conhecia pois, não tinha a menor ideia de quem eu seria. Antes que eu respondesse, concluiu: 
- Não estou em um bom dia.  
Pedi desculpa e rapidamente comentei do amigo garçom. Ela me olhou e talvez por conta de um livro que eu carregava nas mãos, adivinhou quem seria ele, perguntou:  
- O escritor? Seu amigo é o escritor? E pelo visto parece que você também, acertei?  
Deu um sorriso, levantou da mesa. Eu assenti com a cabeça e ela continuou: 
- Faz o seguinte, escritor. Escreve algo que amanhã de manhã me faça sorrir 
Pediu desculpa do seu mau humor.  
Levantei a cerveja como se fizesse um brinde. Fiquei na mesa por mais alguns poucos minutos, depois fui para casa. Deixei o amigo para outro dia.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Amanhã vai ... amanhã, sim, tem de ser outro dia

Pois não é possível, sempre às cinco, depois disso fico atrasado, o céu ainda escuro, a iluminação só a das maquinas.  
Os carros parecem sair, todos juntos, no mesmo horário.
Um vermelho intenso, na minha frente, cobre todas as faixas menos uma, a do ônibus lotado.
São anos do percurso periferia-centro-centro-periferia para buscar o dinheiro amassado dos diabos que paga o pão dos deuses.
Dê graças.
Pois há de ter o que comer quando o dia já se foi, nem vi.
Será que esqueço?
As luzes já estão acessas quando chego em casa.
Com sorte tomo um banho quente antes do noticiário.
- Boa noite.
Sempre educados.
No sofá-cama-brinquedo-estante-mesa dou um cochilo embalado pelas falas programadas de novela, outra, parecida com a mesma da série passada.
Onze e meia e isso já é madrugada. Acredite. Pois, aqui, passa o tempo que nem bala.
- Sai da janela, filho. Vai que é tiro.
As crianças sempre brincando. Esquecem do perigo? Nada.
Meia noite e meia enfim, estão dormindo.
O corpo horizonte agradece o membro em pico, aguenta o outro, a companheira, sobe e desce, verticalizado.
A cama é forte, mas dá estalos. E tem problema?
Tem, de ser rápido.
Um beijo, até logo. Mas amanhã.
Amanhã vai ser outro dia.