segunda-feira, 11 de maio de 2015

Pra manhã

Pra manhã 

Eram onze horas da noite quando tomei a contramão, deixei cama e cobertas para mais tarde. Segui caminhando pelas ruas do bairro, fui encontrar um amigo. Fazia dois meses que ele pagava suas contas trabalhando como garçom em um dos melhores restaurantes da região.  
Uma suntuosa fachada entre duas grandes árvores de copas arborizadas recebia veículos, um seguido de outro, todos atendidos pelo pequeno valete com sua placa de informativo, preço alto.       
Mesmo distante – na mureta da calçada oposta – pude observar, graças à grande janela, o interior do salão. Imaginei o aconchego de velas acesas, o calor dos pratos, o sabor dos vinhos.     
Há poucos metros do restaurante, avistei um carro de lanches. Fui comprar uma cerveja long neck com a única nota, cinco reais, que tinha na carteira. Na calçada próxima, mesas e cadeiras dispunham lugares e, em um deles,  uma moça balançava um dos pés, fumava um cigarro. Aproximei-me e perguntei se estava tudo bem. Ela me olhou e questionou se eu a conhecia pois, não tinha a menor ideia de quem eu seria. Antes que eu respondesse, concluiu: 
- Não estou em um bom dia.  
Pedi desculpa e rapidamente comentei do amigo garçom. Ela me olhou e talvez por conta de um livro que eu carregava nas mãos, adivinhou quem seria ele, perguntou:  
- O escritor? Seu amigo é o escritor? E pelo visto parece que você também, acertei?  
Deu um sorriso, levantou da mesa. Eu assenti com a cabeça e ela continuou: 
- Faz o seguinte, escritor. Escreve algo que amanhã de manhã me faça sorrir 
Pediu desculpa do seu mau humor.  
Levantei a cerveja como se fizesse um brinde. Fiquei na mesa por mais alguns poucos minutos, depois fui para casa. Deixei o amigo para outro dia.