terça-feira, 27 de maio de 2014

Bate-papo.

- Bom dia! Já cheguei.

Ouviu do quarto aqueles dizeres que eram para ele segundo toque do despertador. Levantou. Vestiu-se para escovar os dentes e sair. Sentou à mesa para comer.

- Está cheio de bombeiros lá na madeireira.

Estas foram as primeiras informações enquanto aquecia o café para acrescentar ao leite. Informações do externo que ainda não havia acessado. Chegaram primeiro que sua própria perspectiva sobre como seguia o dia.

- Uma situação complicada – sem vontade para tratar deste assunto – mas eles têm seguro.
- Meu marido, foi quem viu primeiro.

Não eram aquelas palavras que ele queria, mas estava afim de conversa. Na palavra “marido” viu oportunidade de uma rápida entrevista quem sabe um papo.

- Viu primeiro? Que horas entra seu esposo?
- Ele, hoje, pega às 7.
- E nos outros dias?
- 5 h e 30.
- Então ele chega bem antes da senhora – já eram 9 horas.
- Sim. Acorda bem cedo.
- Creio que levanta junto dele. Não é mesmo?
- Levanto, sim – um sorriso.

Parou por ai, sem querer, refletindo sobre os tantos anos de companheirismo que ela expressou no sorriso. Uma pausa longa. Seguiram-se outros movimentos. Tudo quase pronto para sair.

- Hoje está mais frio que ontem.

 Ouviu os diálogos que se seguiram na sua ausência – estava de volta a seu quarto.

- Hoje está mais quente. Ontem esteve mais frio – disse sua mãe que acabava de voltar do caminhar do dia. 

Aqueles mesmos papos. Não eram, mas pareciam ser o único vocabulário. Ele demorou a sair e como não existiu margem suficiente para uma outra conversa, não teve jeito. Achou graça. Os dizeres diferentes sobre um único e mesmo acontecimento. Maneira do sentir de cada um conforme seu próprio movimento. Quente ou frio. Um fato ou um jogo de palavras corriqueiro? Retornando a cozinha ligou a mídia aberta na possibilidade de surgirem ares para um papo diferente. No jornal: o tempo. Ela até que tentou. Ele também. Mas ele não quis falar dos bombeiros e a beleza do sorriso dela evocaram um turbilhão de sentimentos que dizem por si só, não pedem por mais dizeres.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Observação Mercadológica

Desço do veículo já estacionado. Do outro lado da rua, antes mesmo deu atravessar, um rapaz. Dirige palavras a minha pessoa. Apenas tenho ciência por conta dos gestos que faz. Ainda não compreendo seus dizeres devido barulho da via. Me aproximo.

- Pois não?
- ... faço o serviço para você.

As palavras que poderiam me conferir entendimento já haviam sido ditas. Cheguei apenas no diálogo final.
            
- Oi? Desculpa. Como é?
- Seu farol queimado. Tenho dessa lâmpada aqui na loja. Da para trocar pra você.
- Ah, sim! O farol. – fico surpreso com a observação do rapaz.

Em meio a tantos veículos passados pelo mesmo cruzamento que passei, mesmo com minha rápida baliza seguida do desligamento do motor e todos componentes de indicação de um veículo em movimento, ele notou.

 - Não. Mas obrigado pela atenção.

Segui com passos de baliza rápida para conferir a realização das atividades que do horário já me encontrava atrasado. Dirigia pensamentos. Eles, bem mais calmos que a desenfreada movimentação urbana. “Ainda se estivesse com dinheiro sobrando, trocava. ”. Fui seduzido por uma ação de Marketing.  

JazzZ

As roupas foram deixadas na poltrona, dois cobertores descobertos no armário deliciosamente aqueceriam a noite fria. Deitou na cama, apagou as luzes e antes de fechar os olhos tateou as mãos na mesinha ao lado. Buscou pelo companheiro, rádio de pilha. Rolou estações e entre barulho-chiado ouviu sertanejo, pregações evangélicas. Ainda não. Rolou até o fim, voltou um pouco. Pronto. JazZ. Boa noite.