segunda-feira, 10 de abril de 2017

NÃO DORMEM NO ESCURO

ATENÇÃO

Por motivos de registro NÃO DORMEM NO ESCURO veio parar no blog. Leiam sem moderação. Mas, sugiro a leitura do conteúdo em material impresso. 

Atenciosamente. 
Edu. Filho.  



Os meninos sempre foram os meninos antes de qualquer sala. Não obedecem a qualquer espaço. 

- Atenção! Todos aí?
...

- Vai
- Texto
- Texto
- É isso mesmo?
- É.
- Não está do jeito certo.
- O certo nunca nos passou a bola.
- É?
- Texto!

NÃO DORMEM NO ESCURO

Nós quando crianças – cada um com seus brinquedos, suas pelúcias e bonecos –,

- Vocês não me mexam em nada, ouviram bem?!

Mas a gente cresce e, ...

Pois bem,

Está acontecendo

Em são paulo                        são paulo                    são paulo – TODA UMA VIDA –, apesar disso, não ser paulista

Não ser para quem e, veja, não ser para aprovação de vocês

Ser

para!

o que!?...  

meu deus!

que quiserem,

que zona, que bagunça, que mimimi.

falem mesmo

(falta texto),

- Resolve isso
- Continua, continua.

falam

Que as palavras saltem da boca e reverberem.

- Não é lindo?

Nem os braços, nem as pernas
fora do lugar

- Vocês não têm medo?

Somente quando
No berço,

- Buuuu!

LUZ!

- São uns medrosos que só vendo. – dizia a Mãe!, nos proteja!, dos absurdos, deles!

Faltam lembranças da mãe e os meninos no colo. Não encontram na memória fotografias. Esse resgate, vocês atentem bem. 

- Era eu descer as escadas e eles começavam a chorar – sozinhos?. Era uma coisa! Eu cheia de coisas para fazer.

- Nasceram tudo sarará.

Dizia o vô e ria dos meninos. Tranquilo, engraçado, como quem sabe o motivo de cada neto vivo. E ele soube.  

- Estão lendo o que, meus netos?
- ...

Ele deixou a sala de estar. Ele se postou à varanda fez suas preces e orações. Ele soube até que ponto estaríamos seguros.

Foram poucas as palavras com o velho. Com o pai? Deixa ver, alguns gestos. Ele, o pai, movimentava as mãos com o cigarro, levava à boca, tirava e logo depois de soltar a fumaça, sorria. Também com o copo, um gole seguido de outro gole e novamente, outro sorriso. Tinha os dentes de um branco marfim.

Em sessenta e quatro o pai entrou ____________ da _____. Tem notícias nos jornais. Foi com a sabedoria que a mãe guardou. Foi com a mesma sabedoria que nunca entregou seus filhos.  

- Está com ________ aqui na rua, viram!?

Não tinham se ligado que eram NEGROS até o dia em que a MÃE ligou.

Eles viram.

Um carro passou. Uma _______. E, que mal há nisso?, dizem, que há de mais!?. É bom. É preciso. Essa?, parou.

- Todo mundo pro chão!

...

- Tão fazendo o que aqui?

- Só estamos conversando.

- O que!?

- Só estamos conversando.

- Não, não!. Tá errado. É assim: só estamos conversando, ______!, vamos!, repitam.

- Só estamos conversando, ______!.

Sem questionar. Pois assim, quem sabe?, não lhes deixam logo em ___! Haja paciência.

- Porra nenhuma de conversando! Cadê a ______!?, Ein!?, cadê!?, cadê!?

No alto de um prédio.

- Acorda, acorda.

- Que é!?, que é!?

- Olha ali, ó!

Um Toyota Hilux 2013 e quatro homens ________ de prontidão com as mãos nos __________. 

- Merda!, apaga a luz, apaga!

- Mas a gente tem de fazer alguma coisa!

Fecham os olhos, tapam os ouvidos.

- Quero documento de todo mundo! Quero ver quem aqui é cidadão de bem! Acabou a bagunça.

Identificação e documentos –, antes fosse somente isso. No relógio eram dez da noite, uma sexta-feira –, dez!. Assim que baixam as portas do comércio, tem fim o glamour da via, qualquer movimento é suspeito.

a rua não é lugar pra vocês. ”.

E é?! Pra quem?

Alguns poucos trabalhadores ainda aguardam o ônibus não passa de cinco em cinco minutos, passam carros – é morador.

E os meninos de blusão, cor azul, de capuz da cor que é a mesma ..., que isso importa?

- Sen___! –, antes fosse prece, pedido a Deus –, portamos livros carregados em todo lugar. Livros!. Somente livros. Não queremos confusão. Por favor!, não confundam os livros com objetos ________, ou __________ pesados que colocam _____ a vida, de uso exclusivo do ________. Nós nos queremos vivos!

Uma das _____ volta para o ______ e um dos ________ se aproxima. Os outros mantem-se prontos com as ________ apontadas em nossa direção.

- Segura – ele diz e entrega um dos livros caído no chão.
- Seguro.

Não creio.

- Mão na ______ todo mundo.

Revista: bolso, cintura, axilas, “ porra! ”, o saco!.

- Tirem o capuz. Vamos!

O crespo do black-power está amassado. Ele, o _______, direciona a lanterna no rosto dos meninos. Que importa o cabelo? É a pele que apesar do cabelo, não é _____. A ____ volta à cinta. Por conta da cor, fazem diferença!. 

Lanterna no rosto, no tênis.  

- Não é comum o movimento por aqui a essas horas, não é mesmo?
- ...
- Têm ________?
- ...
- Onde?
- ...
- Deixa eu ver.
...

- Podem baixar.
...

- Da onde vocês são?
- ...
- São morador?
- ...
- Hmm!
- ...
- Qual endereço?
- ...
- Aguentem aí.

Na _______: rádio; prancheta, anotações. Um outro se aproxima.

- Estão a pé porquê?  
...

- O bairro anda perigoso, não acham?
...

- Pode acontecer algo, não é mesmo?
...

- Tomem. Podem ir. Mas vejam!, temos o nome de cada um de vocês.

Os meninos caminham com as costas expostas. Não olham. Mas os ________, por sorte?, entraram na _______ e partem. Os meninos podem apenas ouvir.  

- Mãe!, chegamos.
- Mãe!, estamos bem.

- Mãe!, estamos indo
- Levem o documento
- Não precisa
- Não saiam sem o documento

Eles, também!, sempre atrasados.

- Estamos indo, beijo! –, fechando a porta.

Ignição. Partida. Luz amarela.

“Merda!, não vai dar tempo ”.

- Abastece vinte, por favor, álcool.
- A chave?!

Descem.

- Reais.

Luz, vermelha - azul, azul - vermelha, vermelha - azul, azul – vermelha, na porta da conveniência.

“Merda! ”.

Eles estão de olho. Mas os meninos fingem não ver.

“Não vai dar tempo ”.

- Aí!, a chave!
- Oi?!
- Cartão?
- Dinheiro.

Eles não deixam de olhar. Os meninos agradecem e logo, partem.

- Esse carro que acabou de sair, quanto foi?

Menos uma das quatro pontes até o centro.

- Qual?
- O vermelho.
- Vinte.
- O que?
- Reais.
- São daqui?
- Não sei.
- Primeira vez?
- Não. Vêm sempre.

Estão no trânsito e, no mesmo local – em cima do canteiro entre vias –, lá estão, atentos!. Luz vermelha - azul, azul – vermelha, vermelha - azul, azul - vermelha, o celular vibra e toca, toca e vibra. Luz verde. Viva-voz.

- Pegaram o documento?
- Já, já ligamos.

Ligam mesmo!,

- Mãe!, chegamos.
- Mãe!, estamos bem.

Não se sabe, depois de qual esquina?, será o próximo ______________.

Um, dois, três, quatro cruzamentos. Direita, direita, direita, sem vaga, esquerda, param! Na porta de entrada, luz vermelha - azul, azul - vermelha, vermelha - azul, azul - vermelha.  

- Ei!, rapazes!, trabalham aí?
- Ãhan – o sim sai com a cabeça.
- Estão com o documento?
- Oi!?

Franze a testa.

- Que é isso aí?
- Somente textos.
- É?
- Sim.
- Que tipo de texto?
- Somente poesia.
- É? Deixa eu dar uma olhada.

Lê pouco.

“Na escuta? ”, na _______, no rádio.

- Tomem. Peguem.

Entrega.

- Estamos a caminho.

Notaram!?,

ÓDI (ÁRI) O, na televisão, com transmissão ao vivo, passam todos os dias!, as mesmas notícias! Não notaram? No mesmo horário. Não passa em qualquer restaurante! Já viram?.

- Vai, vai!, vai, encosta ali ó!, ali.

Um carro.

- Vai!, para.

Tem os dois vidros, lado direito, abertos. Dentro, três ocupantes. Um e mais dois adolescentes.

Atrás, no passageiro, o adolescente (um) carrega com força a ____, na barriga do motorista (que é ______), suando frio, pálido, segue os comandos do adolescente (dois), na frente, outro passageiro.

- Estão vendo isso? –, perguntam, no posto, com os olhos que as palavras não saem da boca com a vida assim tão perto. 

Pensam.

Merda!, merda!. Que é isso? Calma, calma. Mas, como? Não sejam heróis. Sim!, sejam. Não agora! Calma. Abre a porta, dê a partida, mantem o vidro aberto. Marquei a placa. Ótimo. Vamos atrás de ajuda. De quem? Não sei. Vamos fazer a volta no quarteirão. Merda! Cadê? Cadê o que? Os caras! Que caras? ... Merda! Pois é. Estão correndo, a vida em risco. Eles sabem. Pensa. Pensa. Pensa. Na real, no carro, todos são _______. Merda! Sim! Eles sabem. Eles nos viram? Não sei. Viram ou não? Não sei. Acho que sim. Merda! Liga!

- Alô! Precisamos de ajuda! Acabamos de ver uma parada. Que a gente faz?
- Pode dizer.
- Os meninos estão aí?
- Deixa eu ver.

Não estão.

- Puta, merda!
- Que é?
- Merda!, merda!, merda!
- Que é?!, porra!
- Seguinte ....
- Merda!, merda!, merda! 

Toda mãe pergunta, mas já sabe a resposta.

- O que está acontecendo!?, o que está acontecendo!? Anda! Fala!
- Os meninos.
- Ai!, meu Jesus!.

- Se tiver vacilo, fodeu. Eles já foram?
- Não sei. Pelo tempo, provável que sim.

Mais um jovem, morto

Mais um
Mais um
Mais um

Mais um pobre, morto

Mais um
Mais um
Mais um

Mais outro negro, morto

Mais um
Mais um
Mais um

Dava falta o pai. Tinha dias que a casa, vazia. Só a mãe, de uma força que, quem sente, sabe a dor.

Não constam os nomes no registro.

- Não consta nada, dona!

Minimizou a página, voltou com a tela do computador.

- Entendo o que são esses números!, ouviu bem? Nenhum de vocês consegue enganar uma mãe.

Não é possível que se engane quem sobreviveu a morte de seus homens. Um pai, um companheiro e agora!, seus filhos?, Não!.

- Não tenho medo de _______!.

Somente pela manhã vinha o sono. Nesse dia não foi muito longo. Entraram como aprenderam, sem aviso!, sem _______!, meteram o pé na porta.  

- P e r d e u , p e r d e u

Para a surpresa, a farda!, outra.

- E s p e r a ! , c a l m a !

- C a l m a u c a r a l h o ! N ã o t e m m a i s t e m p o

- C a l m a ! , c a l m a

- C a l m a u c a r a l h o !

- C a l m a , p o r r a ! E trate de tirar essa merda apontada na minha direção.  

- I h ! , q u a l é ! ?

- T e m u m j e i t o

- T e m p o r r a n e n h u m a !
                                                                                                
- T e m ! d á u m a o l h a d a !

- X a e u v ê e s s a m e r d a !

- V ê ! .

Não aguentam mais as portas fechadas. Em questão de ... estalos, vai estourar.  

Sacaram a do Estado de domínio das coisas.

- Porra!. Temos um inimigo em comum.
...

- anda!, imprime isso!.


Edu. Filho
2017
Éh! livro sim!

dudaxavierfilho.blogspot.com