domingo, 3 de julho de 2016

A-MA-RE-LO

A-MA-RE-LO        


Falávamos das coisas da cidade. De uma cidade com:

- Pão, carne, salada, peixe.  

Em recortes.

- Que mais?
- Goiabada, bolacha ou biscoito e café preto.
- Que delícia.
- Mas se falta?

Dor.

- Não falta.
- Num gosto nem de pensar num troço desses.
- Nem de brincar.
- Nem mesmo.
- Eu gosto é de pensar que tem.
- Vocês me ouviram?

Batata, linguiça e couve manteiga.

- Tem!

Na bancada.

Tem alimento que é imagem, alimento com os olhos, tem também quem, alimento com o cheiro. Alimentos como podem.
Tem quem não perca tempo e se afasta e, volta com as panelas, a tábua de madeira, as facas de corte.

- São da cidade?

Todos eles cortam os ingredientes da venda que segue aberta até que passe o último trem. Até a chegada do último morador que precise de álcool, papel higiênico ou detergente.

- Daqui mesmo.
- Vamos sair mais tarde?
- Nesse frio!?
- Quem aguenta?

Ninguém.

Calados. Refletem. Tantas coisas. Mas têm um teto.

- Está bom para ficar de chamego.
- Está mesmo.
- Vamos comer primeiro.

Sentam, conversam.

- Pra lá, que será que pensam?
- Não sei.
- Que nos aguentem.
- Claro!
- Pensam ser uma grandeza!
- Temos parte também.

Manhã, tarde ou noite, na madrugada.

Barulho. Barulho.  

Tem de acontecer. Vez ou outra acontece. Bate na janela um dos pés ou uma das mãos. Na hora do trabalho todo apoio, necessário.

- Meu deus!, pintaram o prédio inteiro!

Pois isso, é só um terço.