quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Sangrei sem tempo para lavar o lençol

Não vai dar
Não vai dar
Não sei
Você não vai entender. Eu não vou explicar

Então não trocamos mais mensagens

Saí. Não teria outro jeito, ainda era quinta-feira
Aproveitei para comprar algum remédio

Buscopan, por favor

Tem dias que não dá. Mas tem outros

No elevador

Nossa que cor bonita

Sim. Dos meus braços. Notou o bronzeado que peguei no sol

Mas o dia não estava sendo igual a “outros dias”. Enfim, já foi

Pedi um sorvete petit gateau antes de ir para casa. Talvez eu vá para aula

Tocou o celular
Não
Não atendi. Dei um tempo. Mandei mensagem

Me ligou? Não vai dar. Tenho aula

Deixei de lado o aparelho na mesa. Avistei alguém

Alguém!

Olhou. Acenei

E aí, tudo bem? O que está fazendo por aqui?

Abracei com força. Gente perfumada é outra coisa. Uma delícia

Foi muito bom te ver!

Foi mesmo

Fui para o ponto de ônibus. Não sei. Fui para aula

Saco
Não gosto de remédios. Tomei outro

Desbloqueie a tela. ? Nenhuma mensagem. Resolvi escrever

Estou indo para aula e depois vou para casa. Vamos marcar outro dia. bem? Quando chegar te aviso. ? Beijo

Tomei um banho. Fui deitar. Mas o lençol lá, manchado. Tirei. Então o colchão, manchado. Deite

Direto no colchão

Não respondeu, não mandou beijo

Não gosto que me deixe falando só, ok? Responde. Já cheguei. Tudo bem?  

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

TEXTO 'PICARETA'


        - Pô, cara! Mas ao menos me deixa mostrar o que é
        - Está bem, está bem. Eu sei. Não se zangue. É que você vai ficar falando um monte de merda
        - Merda, merda. Afinal, por que estamos aqui? E agora já estamos, vamos conversar
        - Hmm. Garçom! Uma água com gás e limão, por favor
        - Rodela ou espremido?
        - Tanto faz. Espremido, por favor

Saca o celular do bolso. Busca algo em algum lugar. Lê.

Da faixa para o asfalto público – das implantações de ciclo-faixas

A implantação das ciclo-faixas é tão concreta quanto é concepção da diversidade no asfalto. Um espaço público.  

Novas faixas e, então, novas possibilidades. Uma alternativa em prol do movimento que pouco flui e muito consome o tempo do cidadão segurado, em lei, do direito de “ir e vir”.

Chega a água. O garçom abre a garrafa, serve no copo com limão.

        - Está servido?
        - Quero, sim
        - Garçom, outro copo, por favor. Mais uma água
        - Limão?
        - Sem limão
        - Sem limão!

É na principal avenida, cartão postal, da cidade de São Paulo (Av. Paulista) que a novidade se torna estratégia promocional.

Meios midiáticos e redes sociais on-line de compartilhamento anunciam, provocam, convidam e dão visibilidade para locomoção de um veículo a muito tempo marginalizado, desvalorizado, esquecido em garagens ou quando nas ruas, correndo riscos devido a circulação no pouco espaço do meio fio e ou nas calçadas arriscando a circulação de transeuntes.

Portanto, o incentivo do uso da bicicleta em tempos de crise da mobilidade urbana, é uma ação positiva. É benefício ambiental. É transporte de baixo ou pouco custo. É a possibilidade do movimento alcançado graças aos quilômetros de vias exclusivas disponíveis.

        - Faixas, faixas. Alguma coisa nessa palavra não me soa bem. Fora que, em dia de chuva como seria?
        - Não sei
        - Olha aí. Está vendo? Não falei?
        - Hmm

Pequenos goles nos copos d’água. Do restaurante passaram a consumir apenas gelo.


quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Quarentetantosanos

Ele sentou.
          Passou a tomar nota das coisas.

          “Uns com tanto e outros com ... ”.

          Ele – Como é mesmo?

          Falava baixo, sozinho.

          Ele – Não, não. Nada disso. É ....

          “A linha 4 - Amarela do metrô agradece a preferência. ”.

          Anunciaram no alto-falante.

          Ele levantou.

          EleEin? Como é? Nada de preferência. Foram dois ônibus para chegar no ponto de partida da primeira estação da linha ....

          Ele – Era só uma ou duas. Aí, agora, sei lá.

          Sem querer ele esbarra em um rapaz. O rapaz é jovem, está bem vestido, caminha sentido a linha 3 – Verde. 

          Ele – Desculpa.
          O rapaz – Não foi nada.
          Ele – É que eu estava aqui e ... você ouviu?
          Ele – Por favor, me dá uma informação? Teve uma manhã, eu estava em casa, ainda deitado, pensando atividades para o dia como alimentar galinhas, pegar ovos, regar plantas, mas ....
          Ele – E isso seria, imagina, só depois de passar um café gostoso, assar um pão no forno. Falaram comigo.

          “Levanta, vai trabalhar. ”.

          Ele – Tem tanto tempo que visto este terno. Onde fica o Centro?
          O rapaz – O senhor tem que fazer baldeação.
          Ele – Baldeação.
         
          Tomou nota.

          Ele – E ... que linha que é isso?
          O rapaz – Em que lugar do Centro o senhor vai?
          Ele – Eu ... eu não sei.
          Ele – Ei, eu morava sozinho!
          O rapaz – Como é?
          Ele – Falaram comigo, mas ... eu morava sozinho.

          Ele refletiu.  

          O rapaz – Oxe!

          O rapaz continuou em direção a linha 3.
         
          O rapaz – Só pode ser doido.

          Falando sozinho.